Crítica
Ouvimos: Alvaro Lancellotti, “Arruda, alfazema e guiné”
- Arruda, alfazema e guiné é o terceiro álbum do músico carioca Alvaro Lancellotti. A sonoridade do disco é inspirada no som dos terreiros e no álbum Krishnanda, feito pelo percussionista Pedro Santos, e lançado em 1968.
- “A busca que guiou todo o processo de criação foi pela liberdade, sobre a tentativa de trazer espontaneidade, deixando fluir principalmente a contemporaneidade de todos que estão envolvidos no trabalho”, explica Alvaro, que fez a produção ao lado de Pedro Costa e Adriano Sampaio, com co-produção de Mario Caldato Jr. (criador, ao lado de Samantha Caldato, do selo Amor In Sound, que lança o disco).
- Nomes como Marlon Sette (trombone), Domenico Lancellotti (percussões, bateria, MPC) e Guto Wirtti (piano, baixo) estão na ficha técnica. Mateus Aleluia, dos Tincoãs, canta em A calma, parceria dele com Alvaro.
Arruda, alfazema e guiné não é apenas um disco, é uma travessia. Imerso nos universos da ioga e da espiritualidade afro-brasileira, Alvaro Lancellotti fez praticamente um relato de descobertas pessoais em meio à religiosidade e às plantas que curam – expresso no título do álbum, em trechos de letras, e em especial na faixa de abertura, a marítima e percussiva Abre caminho.
Ocupado recentemente com a produção do projeto Pra gira girar, em homenagem ao grupo vocal Os Tincoãs, Alvaro não apenas aproveitou a influência do grupo em seu disco, como também tem Mateus Aleluia, um dos integrantes do trio, fazendo um vocal grave na bela A calma, em meio a violão, percussão e efeitos tirados com instrumentos acústicos, além de uma letra que pede a condição de “levar vida com calma/andar com calma”. Na sequência, balanços ligados respectivamente a Jorge Ben e Gilberto Gil dominam a suingada Maneira de ver e a bela Canção de paz.
Em Arruda, alfazema e guiné, o uso quase experimental de cordas deu um tom solene e uma beleza grave a Ando de bando (parceria de Alvaro com o pai, o veterano Ivor Lancellotti), enquanto os instrumentos de sopro embelezam Diambas e dendê, e efeitos de percussão criam um tom de sonho em outra faixa inspirada por Jorge Ben, O canto lá da pedra. Já Poço negro, dividida com Michele Leal, segue como na curva de um rio, com uma introdução de mais de um minuto de voz-e-percussão. E um destaque especial vai para a curtíssima vinheta a cappella Templo de luz, com Alvaro, Michele Leal e Alan de Deus dividindo espaço e aproveitando os efeitos de estúdio.
Nota: 8
Gravadora: Amor In Sound
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