Crítica
Ouvimos: Afonso Antunes, “Filho único”
- Filho único é o primeiro álbum solo de Afonso Antunes, vocalista da banda Alpargatos. O álbum teve direção artística de Rômulo Fróes e produção de Mario Arruda, com colaborações de Nina Nicolaiewsky e Nego Joca. O álbum tem músicas mais antigas ao lado de canções feitas durante a gravação.
- “A narrativa do álbum é tecida por letras que abordam temas como a relação com o tempo, a ansiedade diante das possibilidades, o medo da morte e a certeza da vida”, diz o texto de lançamento.
- Além do trabalho como músico, Afonso é professor de português. Com o Alpargatos, ele já gravou três álbuns. “E não sou filho único”, diz no Instagram.
Durante o projeto de seu primeiro álbum solo, Filho único, o gaúcho Afonso Antunes contou com a mentoria de Romulo Froes. A presença do músico, cantor e compositor paulistano é clara no álbum, que apresenta experimentações com samba, canção pop, folk, lo-fi e coisas eletrônicas – um variedade que surge, às vezes, em poucos segundos de diferença.
Filho único, a faixa-título, é bossa-samba-eletrônico, com uma letra que parte de percepções que vão da infância à idade adulta (bom verso: “o leite derramado/quem bebeu?/não fui eu”). Bigorna parte de um samba eletrônico com levada soul para algo até bem próximo do pop gaúcho oitentista na letra. Se eu morresse amanhã é um samba-canção em tom sombrio, com percussão quase cardíaca, cuícas e samples de vozes dando o ritmo. Em cada porto tem seu ambiente introduzido por barulhos de barco ao mar, e prossegue como uma balada com cara blues, marcada pelo uso de cordas. E não é mais rio é um blues violeiro, com letra sobre amores e mudanças, ganhando mais peso e guitarras do meio para o final.
Na segunda metade do álbum, surgem os sons de rua e o tom pop de Porto Alegre 12:30, a delicadeza da balada contemplativa Tanta coisa, as constatações da balada jazzística e ruidosa Pelas seis, com Nina Nicolaiewsky (dos versos: “a TV me falou que é normal/um dia chove, no outro faz sol/um dia morre pro outro nascer/acho que vou desligar a TV”) e a MPB bedroom de Topografia, com voz, violão e ruídos, e letra voltando para o ciclo inicial do álbum, da linha do tempo começando na infância (“bem perto daquele menino que falava errado/e via tão certo”).
Nota: 8
Gravadora: Frase Records.
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