Cinema
Oscaralho: quando o cinema nacional fez sacanagem com o Oscar
O Oscar foi simultaneamente sacaneado e homenageado em 1986, no finalzinho da era da pornochanchada, quando o diretor José Miziara (de filmes como O bem dotado homem de itu, lançado em 1980) decidiu lançar o filme O Oscar do sexo explícito, mais conhecido pelo apelido amigável de Oscaralho. Que é o nome do troféu entregue às atrizes e atores do ramo, “um caralho com uma asinha”, como Miziara já definiu (enfim, um Oscar com uma cabeça maior que o habitual e mais alguns detalhes).
Esse filme existe de verdade, já andou inteiro pelo YouTube e hoje só tem lá um trecho de 15 minutos com Miziara e uma atriz chamada Erika no palco de uma boate, apresentando a premiação e entregando os troféus. Um texto da revista de cinema brasileiro Zingu! chega no ponto: sim, parece um trecho do antigo Hermes & Renato, da MTV.
O Oscaralho foi um filme de realização meio fácil, poucos anos depois que Miziara chegou ao ponto de dirigir vários filmes num ano só. Em 1976, foi o responsável por um filme que, hoje em dia, é um dos segredos mais bem guardados do cinema nacional: Ninguém segura essas mulheres, único filme feito pela empresa Studios Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda. A produção tem quatro episódios, quatro diretores, uma rara participação de Tony Ramos em pornochanchada, e nunca foi lançada em VHS, DVD, nem teve trecho postado no YouTube. Foi exibido diversas vezes na TV durante os anos 1980 e 1990, trazido de volta recentemente pela mostra Sílvio Santos vem aí!, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, mas o resgate não passou disso.
Bom, Miziara contou num papo para a mesma Zingu! que tanto Oscaralho quanto A quebra-galho sexual, ambos do mesmo ano, foram feitos por causa de uma figura que apareceu essa semana no POP FANTASMA: o diretor americano John Boorman, que fez em 1977 O herege, a continuação do clássico de terror O exorcista.
Boorman, conta Miziara, veio fazer um filme no Brasil em 1985, A floresta das esmeraldas. Sobrou muita “ponta de filme”, e a secretária dele ofereceu o material para quem quisesse. Miziara comprou uma parte, juntou tudo, e fez os dois filmes.
https://www.youtube.com/watch?v=3ezIEK3K0HI
“Ou seja, numa trepada deixava rodando um minuto e mais meio minuto para outro filme. Com pontas, fiz esses dois filmes, foram os dois que mais renderam dinheiro. Botei um smoking, peguei uma menina, fomos numa boate que emprestaram para a gente e eu e ela lá, apresentando: Melhor chupada, Melhor trepada, Melhor anal. Pegava as atrizes que tinham feito as cenas, elas vinham ao palco e o pessoal aplaudia, e dava pra elas um Oscaralho, um Oscar do sexo explícito”, conta com todas as letras.
Mais sobre o Oscaralho aqui.