Cultura Pop
E os 35 anos do último disco do Echo & The Bunnymen com formação clássica?
Não dá para comparar Echo & The Bunnymen, último disco do grupo britânico trazendo a formação clássica, com a exuberância de Porcupine (1983) e Ocean rain (1984). Ou com a agilidade da estreia Crocodiles (1980). Ou com o clima sombrio de Heaven up here (1981). Certo?
Pouco importa. Lançado em 6 de julho de 1987 (fez 35 anos há poucos dias), o quinto disco da banda é “o” disco do Echo &The Bunnymen de um monte de gente. Não dá para discutir com um álbum que tem Lips like sugar. Ou a dançante Bedbugs and ballyhoo, um hit totalmente de acordo com a onda da neo-psicodelia britânica e antecipadora das bandas de franjinha – e ainda por cima contando com Ray Manzarek, dos Doors, nos teclados. Ou a beleza de Over you, The game e do encerramento com All my life, de letra quase autobiográfica (“Como os tempos nos mudaram/seguros e agora incertos/foram homens, não demônios, que reclamaram nossa posse/abandonando a pureza”).
Echo & The Bunnymen é um disco que deixa entrever lá um certo clima de que a festa não é mais a mesma, e que alguma coisa mudara nas vidas de Ian McCulloch (voz), Will Sergeant (guitarra), Les Pattinson (baixo) e Pete de Freitas (bateria). Ou será que esse tal clima vem depois que você fica sabendo das batalhas internas do grupo, das brigas com a gravadora e dos problemas pessoais enfrentados pelo baterista Pete? Em todo caso, a história do disco era bizarra: a banda havia entrado numa inacreditável folga após Ocean rain, passara a ser empresariada pelo tour manager do Duran Duran, Mick Hancock, e tinha começado uma busca incansável por um disco subsequente ao álbum de The killing moon.
No meio da busca: 1) Chegaram a pensar em contratar ex-produtores do ABBA para cuidar do novo álbum; 2) O que poderia ter sido um excelente disco de transição para os homens-coelho, antes de Echo sair, transformou-se na coletânea Songs to learn and sing e no single Bring on the dancing horses, ambos de 1985; 3) Assoviando e chupando cana, Pete de Freitas abandonou a banda para fazer uma viagem pé-na-jaca por Nova Orleans ao lado de um bando de doidos (ou de aproveitadores, segundo muita gente); 4) Rolou um rodízio de bateristas que desagradou à banda, à gravadora e a todos os envolvidos; até que chegassem à conclusão de que Pete, de volta à Inglaterra, com os ânimos serenados e ansioso para juntar-se à banda novamente, era a melhor opção.
A Warner, gravadora do Echo, queria cuidar do disco de perto. O subselo indie Korova, pelo qual o grupo gravava, já não existia mais, e a multinacional tomou conta de todo o processo. Como um modelo para o novo disco, o presidente da gravadora sugeriu So, disco de Peter Gabriel (o do hit Sledgehammer) – só conseguiu horrorizar todo mundo. Para que o disco ganhasse um som mais “americano”, o produtor Laurie Latham ordenou o fim do uso de orquestra, pôs sintetizadores em várias faixas e mandou mixar tudo em Nova York.
A banda, fazendo shows no Brasil, não pôde fazer mais do que acompanhar a mixagem por telefone. O resultado foi que Echo & The Bunnymen fez mais sucesso que qualquer outro disco da banda nos EUA. E mesmo que você não conheça mais nada do grupo, de Lips like sugar você se lembra.
O quinto disco do grupo não é um assunto suave nem mesmo dentro da banda. Ian McCulloch pessoalmente não gosta dele, Sergeant idem. Pattinson diz gostar do disco, mas não aprecia a bendita mixagem feita em Nova York. Pete, que morreria em 1989, provavelmente só queria terminar o disco e cair na estrada. A grande pena é que o Echo que todo mundo aprendeu a gostar nos anos 1980 tenha encerrado atividades aí, ainda que a banda exista até hoje e já tenha lançado pelo menos três grandes discos após terminar e voltar.