Cultura Pop
O único single número 1 do Pink Floyd nos EUA deu trabalho…
O Pink Floyd nunca amou loucamente singles. Em 1968 lançaram seu último single na Inglaterra por uma década, Point me at the sky, que fracassou, não entrou em nenhuma parada e foi imediatamente esquecido. “Decidimos que, se o público não queria comprar nossos singles, não os faríamos mais”, falou o baterista Nick Mason. Chegaram a sair singles nos EUA – entre eles um compactinho americano com Free four, do disco Obscured by clouds (1971) – mas foi tudo exceção.
Na época de The dark side of the moon, houve uma campanha violenta para que a banda lançasse pelo menos um compactinho com Money, que estava dando certo até nas pistas de dança. Ninguém da banda queria, mas enfim, acabou saindo, em 7 de maio de 1973, um compacto da música, com a instrumental Any colour your like no lado B.
E quando estava fazendo o disco duplo The wall (1979), o produtor Bob Ezrin percebeu que tinha um hit nas mãos com Another brick in the wall pt.2, ainda que, pela programação inicial da banda, a canção tivesse duração curtíssima (pouco mais de um minuto) e ainda viesse colada no grito final de The happiest day of our lives. O produtor estava sabendo bem que a disco music fazia sucesso, e deu a ideia de incluir uma batida mais dançante na canção. Aparentemente tudo certo para a música virar um single.
O grande problema era convencer a banda e, mais ainda o líder Roger Waters, cada vez mais isolado, pentelho e inimigo da ideia de lançar singles. Olha só o que Bob Ezrin padeceu durante a gravação do disco, de acordo com o próprio produtor no livro Nos bastidores do Pink Floyd, de Mark Blake.
“Roger disse: ‘Foda-se, não queremos um single’. Então comecei a suplicar, mas ele falava: ‘Não, ninguém vai me dizer o que fazer’. Assim, esperamos que todos tivessem ido para casa e copiamos a faixa. Encontrei uma pequena pausa na batida, da qual retiramos um verso. A seguir, a colocamos no meio para conectá-la, inseri o primeiro verso de volta e juntei o final. Agora nós tínhamos um single”.
Ezrin mostrou a música para Waters e o vocalista, finalmente, começou a aceitar a ideia. Só que faltava alguma coisa ali e acabou surgindo a ideia de convidar um coral de crianças para cantar o primeiro verso da música, no meio da faixa. O produtor já havia tido essa ideia em discos como School’s out, de Alice Cooper, mas nunca teve certeza se foi ele mesmo que decidiu isso. Sobrou para os alunos do professor Alun Renshaw, na escola Islington Green, o trabalho de cantar o verso. O grupo mandou gravar as crianças entre enormes fardos de palha (para absorver melhor os vocais).
Renshaw, que chamou todas as crianças que pudesse chamar, esqueceu de um detalhe básico: pedir autorização na escola ou consultar os pais dos moleques. A música virou alvo do jornal de direita Daily Mail, a imprensa descobriu que os alunos não foram pagos (bom, cada pimpolho recebeu um LP duplo do The wall) e, anos depois, um advogado esperto conseguiu fazer com que quatro dos cantores, já adultos, ganhassem royalties.
Seja como for, final (er) feliz para o Pink Floyd. Devidamente lançada em compacto, Another brick in the wall pt 2 virou o único número 1 da banda nas paradas americanas. Um cara que tem o single fez um vídeo mostrando como era a música na versão compacto. Pega aí.