Cultura Pop
“O rei da comédia”: Jerry Lewis encontra o pós-punk e a new wave
O rei da comédia (1983), dirigido por Martin Scorsese e protagonizado por Jerry Lewis e Robert de Niro, é tido como o último grande filme de Lewis, morto neste domingo (20). O ator e cineasta tinha voltado ao cinema em 1981 com Um trapalhão mandando brasa, após onze anos de afastamento das telas. Acabou topando a ousadia de fazer uma comédia de humor bizarro que trazia uma discussão, er, pós-moderna sobre o que era ser uma celebridade.
Jerry fazia um comediante e apresentador de TV chamado Jerry Langford. E acabava obrigado a aturar o aspirante a humorista Rupert Pupkin (Robert De Niro). Pupkin o salvava de uma fã histérica, mas enfiava-se em seu carro e pedia aconselhamento profissional.
Quando sentou-se para conversar com De Niro e Scorsese, o ator até estranhou. “Bobby de Niro estava me perguntando, bem na minha frente, o que era ser uma celebridade. Até respondi: ‘Que porra é essa que você está me perguntando?’ Quem não poderia lembrar da cara dele? Estávamos em 1982, veja bem. Ele esteve em filmes como A última batalha de um jogador, Taxi driver. E até aquele momento não sabia o que era ser uma celebridade!”, contou no vídeo abaixo.
E um outro detalhe novo era que a trilha sonora trazia o ator para uma nova leva de fãs. Se nas produções antigas dele, jazz, blues e música clássica davam o tom, dessa vez quase metade da trilha trazia uma turma mais ligada ao pós-punk e a new wave. Tinha Pretenders com Back on the chain gang, Ric Ocasek (The Cars) com Steal the night, Talking Heads com Swamp. Tinha também o jazz modernizado (e geralmente aceito pelo público moderninho da época) de Rickie Lee Jones, em parceria com Tom Waits, em Rainbow sleeve.
Indo no rock clássico, o ex-The Band Robbie Robertson estreava solo responsabilizando-se pela trilha e por uma das músicas, Between trains.
Em O rei da comédia, tinha também B.B. King com Ain’t nobody business, o jazzista Bob James com King of comedy, Ray Charles com Come rain or come shine. E Donald Fagen (Steely Dan) e David Sanborn com The finer things. E Van Morrison com Wonderful remark. Mas vá lá, dá até pra dizer que se trata do encontro de Jerry Lewis com a turma do pós-punk. A trilha foi lançada em vários países e fez bastante sucesso. O disco com as músicas do filme foi reeditado em CD pelo selo Wounded Bird em 2014.