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O que você vai ver no documentário sobre o Velvet Underground

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A essa altura, o que mais tem é link para baixar (de forma pirata) The Velvet Underground, o documentário de Todd Haynes sobre a banda americana que, mesmo não vendendo milhares de discos, mudou a sua vida.

E mudou mesmo: o filme de Todd é bastante assertivo ao deixar claro que a música do Velvet (e mais aproximadamente a de Lou Reed, principal compositor do grupo) deu voz a muita gente que estava totalmente excluída de todos os círculos possíveis e imagináveis da cultura e do universo pop.

Músicas como Heroin, All tomorrow’s parties (cuja letra poderia ter sido feita em 2021, no meio da pandemia), Sunday morning, Here she comes now e Sweet Jane foram mais do que apenas canções. Deram identidade para muita gente, e deram voz a uma turma que andava pelos cantos, sem público e (muitas vezes) desenturmada, em plena era do flower power. Dá para perceber pelo filme o quanto essa mensagem foi compreendida e assimilada.

Para quem se interessa, antes de tudo, por música de vanguarda, The Velvet Underground é uma boa demonstração de como a música cult se misturou com o universo pop – e de como até Beatles e The Everly Brothers encontram-se escondidos ali, na receita do grupo. Ainda que Sterling Morrison (guitarra), Moe Tucker (bateria e ocasionais vocais) e Nico sejam importantíssimos, o VU é o encontro entre um pretenso poeta e rockstar que adorava provocar e irritar os outros (Lou Reed) e um compositor e músico de vanguarda apaixonado por drones (John Cale).

Se você espera que o filme mostre imperfeições de Lou como compositor e líder do grupo, vale dizer que algumas características desagradáveis do cantor estão lá – incluídas aí a maneira pouco bacana como nomes como Andy Warhol e John Cale foram sacados da turma. Mas Lou é mostrado como o sujeito que deu um discurso ao Velvet, um artista criativo e um companheiro bastante carismático.

O filme se vale de depoimentos de Moe, John Cale, Shelley Albin (ex-namorada de Lou Reed e, em tese, inspiração de músicas como Pale blue eyes), Merrill Reed (irmã de Lou, hoje psicoterapeuta), Mary Woronow (superstar da turma de Andy Warhol) e de ex-colegas dos integrantes no começo da carreira. Nomes como Sterling e Lou aparecem em depoimentos antigos.

Quem quiser um panorama bem legal sobre a caminhada do VU do comecinho até a era da Factory, vai ficar feliz com o filme. Um detalhe chato é que The Velvet Underground tem quase nada de shows da banda. Restou a um jovial Jonathan Richman (Modern Lovers), cria da banda, e que já viu cerca de 70 (!!!) shows do Velvet, dar um depoimento excelente sobre como eram as apresentações e como era legal ver um show deles.

Não há muita coisa sobre Loaded, disco de 1970, no filme. Compreensível: Moe Tucker não participou do disco, Cale diz que o Velvet já não era mais problema dele, Sterling e Lou estão mortos, Doug Yule não quis dar depoimento. Ainda assim, isso é BASTANTE lamentável, já que Loaded foi o maior esforço para tirar o Velvet Underground do (eita) underground. Falei desse álbum aqui inclusive. O último empresário do Velvet, Steve Sesnick (vilanizado por Lou e por uma porrada de gente do círculo do grupo), passa batido pela história e nem é citado.

No mais, qualquer coisa feita por Todd Haynes merece que você veja com toda a atenção – e já falamos sobre uma delas, o doc Superstar: The Karen Carpenter story, feito apenas com bonecas Barbie.

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