Cinema
O que você vai ver em Stardust, cinebiografia de David Bowie
Meu conselho para qualquer bowiemaníaco que resolva ver Stardust, cinebio não-autorizada de David Bowie, dirigida por Gabriel Range, que está em cartaz no Telecine, é: não se deixe levar pelo que falam da aparência de Johnny Flynn, que interpreta Bowie. Flynn está bem no papel. Até deram uma estragada nos dentes dele para ele ficar bastante parecido com o Bowie descuidado dos anos 1970. Mas de qualquer jeito, a atuação dele é convincente ao mostrar o indefinido Bowie de 1971, época em que ele já era uma mescla de hippie sujinho, astro glam decadente e ser de outro planeta.
Nessa época, Bowie era – pode acreditar – um artista tido como invendável pela própria gravadora (Mercury). Em pleno ano da explosão glam, com o Marc Bolan e o T Rex liderando as paradas com Electric warrior, Bowie tinha preferido falar de ocultismo, drogas, esquizofrenia e bad trips em The man who sold the world, um disco mais ligado aos insociáveis protopunks de Nova York.
Os fãs geeks de Bowie vão curtir o fato de que Stardust ofereça visões bem pouco usuais do personagem. A ideia do filme é mostrar o que estava na gênese do personagem Ziggy Stardust, levado aos palcos por ele em 1972. No filme, Bowie, desconhecido nos EUA e pouco divulgado em seu próprio país, vai aos Estados Unidos em 1971 fazer uma “turnê” cagada que só traz aporrinhações.
É bem maluco imaginar que, se Bowie não fosse capaz de se reinventar, existiria hoje a possibilidade forte dele ser um daqueles artistas estranhos e/ou pouco divulgados dos anos 1960/1970, tipo Coven, Sir Lord Baltimore e Judee Sill. Bowie, de fato, estava longe de ser o grande nome que seria pouco tempo depois. Muito embora a história não tenha sido bem assim e Bowie nem tenha recebido aquela recepção 100% fria nos EUA.
Um trunfo de Stardust é mostrar quanto os problemas do irmão, Terry, estavam por trás do conceito da obra de Bowie. Terry, que tinha esquizofrenia, é visto como o inspirador das constantes mudanças de personagem de Bowie. Nos momentos ao lado do irmão (Derek Moran), e nas horas em que Bowie desabafa com seu divulgador americano Ron Oberman (Mark Maron), é quando dá pra ter uma ideia das incertezas que rondaram o começo de uma das carreiras mais venturosas do universo pop.
Stardust é fantasia, mas é bastante feliz ao mostrar que nem tudo no universo de Bowie foi fácil, ou já nasceu pronto. Vale assistir e até passar por cima do fato de que nem mesmo as músicas originais do cantor puderam ser mostradas no filme.
De qualquer jeito, se você quer realidade, tá aí uma bela cronologia de tudo o que aconteceu com Bowie naquela primeira viagem aos EUA.
The man who sold the world, o disco que Bowie estava fazendo nessa época, foi reeditado recentemente com o nome que ele deveria ter ganhado na época, Metrobolist. Ouça aí embaixo. Temos um texto enorme sobre esse disco aqui no POP FANTASMA.
E aparentemente este canal não gostou do filme.