Cultura Pop
O Kiss no divã: como um psiquiatra enganou a banda, abandonou a família e sumiu do alcance da polícia
De vez em quando a gente esbarra numas histórias bem inusitadas sobre o universo do rock. Uma delas, especialmente, descobri tem um tempinho e fiquei estupefato de não conhecer. Durante a fase sem-máscara (quando lançaram uma série de álbuns chatos, com hits esparsos), o Kiss contratou como empresário um sujeito chamado Jesse Hilsen. Que vinha a ser ninguém menos que o terapeuta de Paul Stanley e era um premiadíssimo e conhecido psiquiatra.
Seria apenas mais um desses casos estranhos em que rock e psiquiatria se encontram (como o relacionamento entre Brian Wilson, dos Beach Boys, e seu ex-psiquiatra Eugene Landy). Só que depois Hilsen revelou-se um escroque da mais alta linha, além de um fugitivo dos mais ariscos. O investigador Steve Rambam, que já caçou nazistas, ladrões de joias e gente aparentemente bem mais cascuda, foi escalado para encontrá-lo após se passarem mais de dez anos do seu desaparecimento, sem deixar pistas
Deparei com essa história maluca há alguns anos quanto assistia ao programa Sem saída, no canal Investigação Discovery (confira o trailer aqui). Em meio à salada de casos reais que a série apresenta, surgiu a história de Hilsen, que deve ter aparecido em alguma biografia dessas da banda (algumas saíram no Brasil), mas que me era totalmente desconhecida. Usando dez nomes falsos e abusando do sangue frio, Hilsen escondeu-se na Holanda, em Israel (é judeu, assim como os dois líderes do Kiss e o próprio Rambam) e na África do Sul. Foi encontrado pelo investigador quando passava um tempo abrigado na casa de um tio em Westkill, Nova York.
O que deixa qualquer um espantado na história toda: 1) a frieza e o mau-caratismo de Hilsen, um cara que bem antes de se envolver com o Kiss já relegava a família a uma espécie de limbo sentimental e só se preocupava com o próprio enriquecimento; 2) o fato de ele realmente ter ficado fora do alcance da polícia dos Estados Unidos por uma década. O FBI não conseguiu nada ao investigar o caso. O próprio Kiss mal sabia (ou parecia mal saber) da situação: Paul Stanley e Gene Simmons só souberam que Hilsen era procurado pela polícia quando Rambam, que é fã do grupo, os procurou nos bastidores de um show em Chicago em 2003, no dia do ano novo judaico – o investigador abriu a conversa com um “shana tova” e despertou a atenção da dupla, que teria passado a colaborar imediatamente.
Bom, encurtando a história, Hilsen acabou sendo condenado em 2005 e obrigado a pagar US$ 162.000 à mulher – uma bagatela, se comparado ao que ele realmente devia à esposa e aos filhos, já adultos na época. Admitiu que não agiu certo e que pensou apenas em seu crescimento financeiro. O que espanta mais ainda é que, em meio a essas negociações, ele conseguiu manter sua licença médica. Aparentemente – a não ser que ele tenha um xará – ele trabalha hoje como alergista e imunologista em Albany, Nova York.