Cinema

O filme “de rock” de Renato Aragão

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Em 1986, na comemoração do vinte anos dos Trapalhões, a Rede Globo programou para a Sessão da Tarde vários filmes do quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Inclusive filmes em que o quarteto ainda não estava completo, como O trapalhão no Planalto dos Macacos (de 1976, ainda sem Zacarias) e um verdadeiro ET na carreira cinematográfica de Renato Aragão, Na onda do iê iê iê, dirigido por Aurélio Teixeira em 1966.

Quem tinha dez anos de idade na época, não ia entender nada do que estava se passando ali, e talvez cedesse lugar, na poltrona da sala, aos pais. Só para começar, Na onda do ie iê iê foi o único produto de Renato Aragão feito para adolescentes e jovens (mas adolescentes e jovens de 1966!). Os protagonistas são Renato (que interpreta seu recém-lançado personagem Didi), Dedé Santana (cujo personagem se chama Maloca, e não “Dedé”) e ninguém menos que o cantor Silvio Cesar, que interpreta um cantor iniciante chamado César Silva, ajudado pela dupla de pré-Trapalhões a conseguir sucesso no mundo artístico.

Mais 1966 impossível: Cesar vai ao programa do Chacrinha (interpretado pelo próprio) e concorre num festival da canção. E se apaixona pela filha do dono de uma gravadora. O romantismo também era o de 1966: ele disputa o coração da moça com outro cantor e rolam cenas de brigas (algumas de bar, no estilo Bud Spencer e Terence Hill) durante o filme. O elenco ainda inclui vários artistas pop do período interpretando eles mesmos: Wanderley Cardoso, Rosemary, Wilson Simonal, Os Vips, The Brazilian Bitles (creditados como “The Brazilian Beatles” mesmo), Renato e seus Blue Caps, Clara Nunes (sim, a própria: tinha acabado de ser lançada no mercado por Carlos Imperial).

Aliás, mais 1966 impossível mesmo: quem foi ver Na onda do iê iê iê esperando um filme comum de Renato Aragão, ganha uma aula de estética pop pré-psicodélica. Começa já na abertura, com os rostos de vários jovens dançando na penumbra, e chega às roupas da turma, além das músicas e das apresentações. O filme costuma ser considerado um item bem menor na carreira de Renato Aragão: saiu bem no começo da carreira televisiva dele, na TV Excelsior.

Nem todo mundo gostou de Na onda do iê iê iê: O Globo de 26 de novembro de 1966 deu uma detonada politicamente incorreta no filme. Chamou as bandas participantes de “debiloides” e questionou: “É preciso então, que o cinema ainda venha ajudar a deseducar, cada vez mais, as plateias brasileiras? Assim não é possível”.

Aliás essa longa introdução é só para avisar que jogaram o filme inteirinho no YouTube, tirado de uma edição em VHS lançada nos anos 1980. Pega aí que é diversão garantida.

Um detalhe curioso é que Na onda do iê iê iê é um produto típico da era da jovem guarda, e talvez até mais incisivo no que diz respeito a se inspirar nos filmes dos Beatles (afinal, A hard day’s night passou no Brasil em 1964 como Os reis do iê iê iê). A biografia Renato Aragão – Do Ceará para o coração do Brasil, de Rodrigo Fonseca, mostra essa relação ao contar que Wanderley Cardoso (que está no filme de Aragão) havia sido contratado pela Excelsior para apresentar um programa “jovem” que concorreria com o Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos na Record.

A atração não deu certo e chegou a ser criado um programa para Wanderley e Rosemary apresentarem, Juventude e ternura. Sem saber o que fazer com Wanderley, o diretor Wilton Franco foi falar com Renato, que sugeriu um programa com um quarteto. Cada integrante teria um perfil. Em setembro de 1966, pouco antes de Na onda do iê iê iê, iria ao ar Os adoráveis Trapalhões, com ele, Wanderley, Ivon Cury e o lutador de telecatch Ted Boy Marino. O grupo que depois teria Renato, Dedé Santana, Mauro Gonçalves (o Zacarias) e Antonio Carlos Bernardes Gomes (o Mussum) começou aí.

Via Trapalhões Nostalgia

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