Cultura Pop

O estranho mundo de Mort Garson

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Durante os anos 1950 e 1960, o canadense Mort Garson (1924-2008) trabalhou bastante como músico de estúdio e compositor, sempre lá atrás dos bastidores. Compôs músicas para Brenda Lee (“The dynamite”), Ruby & The Romantics (“Our day will come”), gravou ou fez arranjos em discos de Doris Day, Mel Tormé, Julie London, Nancy Wilson e vários outros. Também aproveitou a onda dos discos de easy listening e fez arranjos orquestrais para músicas dos Beatles, para clássicos da bossa nova e muitos outros temas.

Até que há cinquenta anos, foi a uma conferência da Sociedade de Engenharia de Áudio em Los Angeles. Lá, teve contato com Robert Moog – o inventor do sintetizador Moog – que fez uma palestra sobre o uso do aparelho em música comercial. E sua vida mudou. A partir daí, Garson gravaria uma série de discos bastante… bom, “inusitados” é uma boa maneira de descrevê-los. E quase todos colocavam os teclados do Moog bem na linha de frente, seja para criar sons agradáveis ou atmosferas sombrias.

“THE ZODIAC: COSMIC SOUNDS” (Elektra, 1967). Lançado na esteira do sucesso do primeiro disco dos Doors (que saiu pela mesma gravadora), esse disco, composto e arranjado por Garson (Paul Beaver encarregou-se dos teclados) até que lembrava bastante o som da banda de Jim Morrison, com sintetizadores, órgãos de churrascaria e declamações morrisonianas (feitas pelo cantor folk Cyrus Faryar) sobre cada um dos doze signos do zodíaco (nomes de algumas músicas: “Áries: o caçador de fogo”, “Touro: o voluptuoso”, “Leão: o rei das luzes”, “Escorpião: o herói passional”).

https://www.youtube.com/watch?v=29H3QOZOeOE

“THE WOZARD OF IZ: AN ELECTRONIC ODYSSEY” (A&M, 1968). Mort e seus teclados numa versão hippie-psicodélica-doidaralhaça de “O mágico de Oz”, em que todos os ruídos (vento, passos, batidas, etc) são feitos pelo Moog. Maravilhoso. Só ouvindo para crer.

“ELECTRONIC HAIR PIECES” (A&M, 1969). De arrepiar os cabelos: Garson selecionou dez canções da ópera-rock “Hair” e tocou tudo no Moog, com resultados que vão do lounge mais safado ao brega decorativo. Muito bom e relaxante – ouça antes de dormir.

“DIDN’T YOU HEAR” (Custom Fidelity, 1970). A capa avisava que se tratava da “primeira trilha de filme feita de forma totalmente eletrônica! Experimente sons e sensações que você nunca sentiu antes!”. Dirigido por Skip Sherwood, “Didn’t you hear” passou apenas em cinemas de Seattle e passou a “existir” para muita gente apenas quando saiu numa pequena edição em VHS, em 1983. A trilha feita e tocada por Garson, psicodélica e experimental, seguiu quase o mesmo caminho: o LP original foi vendido apenas nas salas de exibição e nunca nem foi reeditado.

“BLACK MASS” (Uni/MCA, 1971). Loucura. Lançado por Garson com o pseudônimo de “Lúcifer”, esse disco fazia uma espécie de “missa negra” bizarra em tons de bossa nova psicodélica.

“THE LITTLE PRINCE” (PIP Records, 1974). A narração do ator Richard Burton para a história do “Pequeno Príncipe” teve trilha de Garson e deu um Grammy para o canadense na categoria Melhor Disco Infantil.

“ATARAXIA: THE UNEXPLAINED” (RCA, 1975). Com o subtítulo de “impressões musicais eletrônicas do oculto”, esse disco trazia Garson ao sintetizador fazendo basicamente sons ora meditativos, ora dançantes, que adiantavam em vários anos as obras de artistas como Chemical Brothers, Aphen Twin e Moby. Um de seus melhores discos.

“PLANTASIA” (Homewood, 1976). Esse belo disco oferecia “música da mãe Terra para plantas… e para as pessoas que as amam”. Nos momentos mais pop o som lembra bandas de rock progressivo como Focus e Trace, é bem menos experimental e as músicas têm títulos formidáveis como “Concerto para Philodendron e Pothos”, “Você não precisa levar uma begônia para passear” e “Spathiphyllums dançante”. Mort fez Plantasia como brinde para a Mother Earth Plant Boutique, uma espécie de loja gourmet de plantas inaugurada em 1970 na Melrose Avenue, em Los Angeles. Os proprietários eram um casal de figuras da indústria da TV e do cinema (aqui tem um artigo explicando toda a história do disco). Acaba de ser reeditado pelo selo Sacred Bones.

Garson também fez várias trilhas para game shows de televisão e musicais. E ganhou um curta-documentário sobre sua vida há dez anos, “Music man”. Olha aí.

Aqui e aqui tem mais (em inglês) sobre Garson.

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