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O dia em que o Jethro Tull tirou o Grammy do Metallica

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O mais engraçado é assistir ao vídeo abaixo prestando atenção nas caras de Alice Cooper e Lita Ford. O velho roqueiro e a ex-integrante das Runaways foram convidados para apresentar o vencedor do prêmio Melhor Disco de Hard Rock/Heavy Metal no Grammy de fevereiro de 1989, na primeira vez em que o som pesado entrava na festa. Alice faz cara de estranhamento quando vê que “Nothing’s shocking”, do Jane’s Addiction (1988) foi lembrado pela Academia, claramente dá uma ironizada quando descobre que “Crest of a knave”, disco recente do monolito progressivo Jethro Tull concorria na categoria (Lita Ford tenta disfarçar, mas sua expressão é a de quem não entendeu porque é que o grupo foi parar lá) e alegra-se quando Lita anuncia “Cold metal”, do camarada Iggy Pop, e “Blow up your video”, do AC/DC, como concorrentes.

E como você viu no fim do vídeo, não foi o que aconteceu: o Jethro Tull ganhou a estatueta no lugar do Metallica e tanto o público quanto os apresentadores não entenderam patavina – dá para ouvir o “oooh” de decepção do público, ver as caras de ironia de Lita e Alice e os dois saindo do palco rindo para não chorar. Ian Anderson, vocalista do grupo, então contratado da Chrysalis, havia sido avisado por sua gravadora que nem deveria sequer ir à premiação, “porque o Jethro não ganharia nada mesmo”. Alice pegou o prêmio e educadamente avisou que iria entregá-lo nos bastidores.

Na época, Anderson chegou a afirmar numa entrevista (publicada no Brasil pela “Bizz”) que a única categoria na qual a banda poderia concorrer era essa. Em outro papo, justamente com a revista especializada em som pesado “Kerrang!”, chegou a falar que a banda teve sorte de não ir à festa, já que “seria constrangedor receber o prêmio nessas condições”.

Enfim, o Grammy de 1989 será sempre lembrado por ter sido o dia em que o Metallica estava 100% confiante de que levaria a estatueta por seu disco duplo “And justice for all”, primeiro grande sucesso da banda, mas acabou levando uma ducha de água fria. Na premiação, no Shrine Auditorium de Los Angeles, o grupo mostrou uma versão de seu maior hit até então, “One”. Olha aí a primeira vez que um grupo de heavy metal tocou na premiação (“durante muito tempo o heavy metal foi confinado ao underground, mas os tempos mudaram e o Grammy também mudou”, diz o apresentador).

Se o resultado foi tido como um grande mico por todo mundo na época (depois de 1990 a divisão entre Hard Rock e Heavy Metal se acentuaria ainda mais), cada uma das duas bandas esticou a história da maneira que pôde, e da maneira que melhor fizesse efeito entre seus fãs. Olha aí o anúncio de página inteira que a Chrysalis pagou para homenagear o reconhecimento do Grammy ao Jethro Tull, em 1989 (fazendo referência à flauta de Ian Anderson).

O Metallica fez piada, que era o que dava para fazer: mandou acrescentar nas prensagens subsequentes de “And justice for all” um colante onde se lia “perdedores do Grammy”. E olha eles aí, ganhando o prêmio em 1992 por causa do “black album”, publicado um ano antes, e agradecendo ao Jethro Tull “por não terem lançado nada no ano passado” (lançaram sim: o disco “Catfish rising”, em 1991, que sequer foi indicado).

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