Cinema
O.C. & Stiggs: o filme que Robert Altman odiou dirigir
Diretor de clássicos como M.A.S.H. e Voar é com os pássaros, Robert Altman tem um, er, filme renegado no passado. O.C. and Stiggs, inspirado numa história em quadrinhos da revista americana de humor National Lampoon sobre dois adolescentes vida-torta, foi filmado em 1983, ficou guardado pela MGM por vários anos (até que dilemas de pós-produção e clearance estivessem resolvidos) e só ganhou exibição nos cinemas em 1987.
Feito pouco depois do sucesso da versão cinematográfica de Popeye, dirigida por Altman, o filme não fez tilintar cofre algum. E ainda ganhou nariz torcido do próprio diretor. Que, vá lá, em 1983, ainda poderia aproveitar a onda de comédias adolescentes sem-noção que pegou fogo entre o fim dos anos 1970 e o começo dos 1980. Enfim, filmes como Porky’s (1981), Clube dos cafajestes (ambos de John Landis, 1978) e outros. Mas não contava com os atrasos.
A novidade é que jogaram O.C. & Stiggs no YouTube, infelizmente apenas com legendas em inglês. Pega aí.
O diretor diz que, quando fez OC & Stiggs, a encomenda que lhe foi feita foi exatamente essa: que ele dirigisse um Porky’s próprio, para fazer bastante sucesso e levar mais uma comédia da National Lampoon (como o Clube dos cafajestes) para a telona. Não deu certo: Altman passava o tempo todo brigando com os roteiristas, em crise com o próprio trabalho e a coisa só engatou quando, sorrateiramente, ele decidiu fazer uma paródia dos filmes de adolescente da época, que ele declarou que “odiava”.
Basicamente OC (Daniel H. Jenkins) e Stiggs (Neill Barry) são dois adolescentes playboys que circulam pela cidade de carro, dando em cima de garotas, arrumando confusão com os vizinhos (uma família conservadora cujo patriarca é um vendedor de seguros) e fazendo escola na delinquência. Para quem é saudoso do cinema dos anos 1980, vale afirmar que boa parte do filme se vale do desejo de chocar a audiência e provocar tudo aquilo que era entendido como conservadorismo na época.
E para 1983, não haveria nada mais certeiro. Os personagens faziam um baita sucesso na revista e a expectativa era que o êxito se repetisse na tela. O público não pescou o lado ‘sátira’ da história e a direção saiu meio experimental demais para um filme de rápido consumo, com cortes rápidos e piadas mais, er, sofisticadas (vale citar que várias delas promoveriam um cancelamento brutal do filme e do diretor, se fossem feitas em 2020).
Lá pelas tantas, aparece até Dennis Hopper interpretando um neurótico de guerra que combatera pelo Vietnã, o Sponson. E que acaba ajudando os meninos a assustar ainda mais os vizinhos.
O.C. and Stiggs chegou a ganhar lançamento em DVD, com direito a depoimentos constrangidos do próprio Altman nos extras. O diretor não livrou a cara do roteiro, disse que não se tratava “do meu tipo de filme” mas elogiou bastante o elenco. Fica aí como uma preciosidade bizarra que se bobear nem os maiores fãs do diretor conhecem.
Via Oscilloscope
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