Crítica
Ouvimos: Nick Léon – “A tropical entropy”
RESENHA: Nick León mergulha nas contradições de Miami em A tropical enthropy, disco experimental, ácido e pop, com ecos de reggaeton e noites alucinadas.
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DJ de Miami, Nick Léon começou a ter bastante projeção quanto estourou hits na pista de dança, recentemente – e ainda por cima foi um dos colaboradores do álbum de sucesso Motomami, da estrela pop espanhola Rosalía. Um papo recente com o jornal The Guardian mostra que Nick é o mais novo exemplo de popstar que, quando conheceu o sucesso, percebeu o quão emburrecedor tudo pode se tornar, ainda mais se você se torna condenado a ficar se repetindo o tempo todo.
A tropical enthropy, seu novo álbum, surgiu dessas encucações de Nick. Ele deu um tempo na noite, concentrou-se em produções caseiras, e basicamente quis fazer de seu novo disco uma homenagem às contradições de Miami – um lugar importantíssimo para ele, para toda a cena musical latina, mas ao mesmo tempo uma cidade que volta e meia é considerada “apenas” um paraíso turístico eternamente explorado pelos Estados Unidos, pela elite burra latino-americana (brasucas incluídos), pela política e pela violência urbana. Entre sons e vocais experimentais, Nick parece querer construir um cenário de sonho em que tudo pode desabar como castelos de areia, a qualquer momento.
Com título tirado do livro Miami, de Joan Didion, o disco de Nick tem diversas participações especiais que ajudam A tropical enthropy a soar como slides que vão sendo queimados pela lâmpada do projetor. Entrophy, com Xander Amahd, une trap, reggaeton e sonho psicodélico. Ghost orchid, com os vocais de Ela Minus, é um reggaeton que soa como o fim do verão – ou os lados negativos da estação apaecendo do nada. Metromover tem a alegria e o calor do som e do mar, mas é rápido e anfertamínico. Millenium freak, com Esty e Mediopicky, é sombria, parece um samba latino torto e experimental, e depois ganha ares de dance music ácida.
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No cenário entrópico do disco, há três músicas que soam quase pop, e uma delas é um hit de fato. Bikini, com a dinamarquesa Erika de Casier, é uma house latina rápida, um indie pop que de fato chamou bastante atenção em 2024, quando foi lançado. Product of attraction, com Lavurn, poderia até ser uma canção da Shakira, se não fosse tão experimental e texturizada.
Ocean apart, com Casey MQ, é um indie pop masculino cabisbaixo, com clima quase psicodélico. Um clima mais acessível e menos presente em A tropical enthropy do que a acidez de Hexxxus e o ambient latino de Crush, temas com cara de noite virada, porres à beira-mar e viagens de MD nas quais você mal se lembra o que andou cometendo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: TraTraTrax
Lançamento: 27 de junho de 2025