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Nativos MCs: rap indígena do Alto Xingu
Nativos MCs é um projeto de rap indígena que surgiu na Aldeia Afukuri, da etnia Kuikuro, localizada no Alto Xingu (MT). Macc JB, Urysse Kuykuro e PajéMC são os três rappers do grupo, que costuma adicionar o idioma kuikuro ao português, como na letra do primeiro single, Tente entender, uma denúncia sobre a situação vivida pelos povos originários – que no caso da etnia etnia, inclui violências como desmatamento, poluição, invasões e envenenamento. “Devido a uma educação em bases coloniais, a população é educada sem saber nada sobre as verdadeiras realidades e a diversidade indígena no país”, diz o grupo.
O grupo lança mais um single neste mês, e ainda se prepara para lançar um clipe de estreia em março. Mas a primeira música também é o primeiro lançamento do projeto Voa Parente, criado pelo selo musical Azuruhu. A ideia do projeto é impulsionar os trabalhos de artistas de diferentes etnias indígenas – e o selo, que funciona como nave-mãe, lançou recentemente seu primeiro álbum, Kwahary tazyr, da cantora, escritora e ativista indígena Kaê Guajajara.
Batemos um papo rápido por e-mail com o Nativos MCs. O lyric video de Tente entender segue aí embaixo (foto: Diego K. Yawalapiti/Divulgação).
Como o grupo foi formado? E o que vocês escutavam de música quando decidiram fazer seu próprio rap?
Urysse: Então, a gente escutava muito o rap dos parentes, Kandu Puri e sua companheira Kâe Guajajara, Katu Mirim etc. Também o rap dos não indígenas. E decidimos formar nosso próprio grupo, Nativos MCs.
Houve algum evento em especial que influenciou a criação do grupo? Algo que aconteceu no local onde vocês vivem e que gerou a vontade de escrever música?
Urysse: Sim, aconteceu um evento dos líderes xinguanos que estavam preocupados sobre envenenamento da terra e desmatamento da floresta. E nós montamos o grupo para mostrar a nossa cultura e a nossa realidade, para defender nosso território, nossos direitos.
Que outros projetos musicais rolam na aldeia em que vocês vivem? Cada um dos integrantes vem fazendo outras coisas e se dedicando a outros projetos também?
Urysse: Não tem outro projeto musical aqui na nossa aldeia, só temos as músicas tradicionais que praticamos. Sim, cada um dos integrantes estão seguindo seus projetos.
Como tem sido fazer rap no idioma kuikuro? No repertório de vocês há músicas com letras inteiras compostas no idioma?
Macc JB: Então, fazer o rap no idioma Kuikuro é bom para a gente mostrar a nossa língua materna, que está viva ainda, a maioria dos não indígenas acham que nós perdemos a nossa língua. Por isso utilizamos essa arte traduzida na língua Kuikuro, e na língua portuguesa, como ato político para defender nossos direitos.
Falem um pouco do selo Azuruhu e do projeto Voa Parente. São projetos criados por vocês mesmos?
Macc JB: Esse projeto foi criado pela Kâe e Kandu. A Kâe fundou, o Kandu é cofundador. E Voa Parente é um projeto que eles pensaram para poder impulsionar e instruir outros novos artistas indígenas.
E como está sendo denunciar na música o que estão fazendo com o povo de vocês?
Macc JB: Meu povo Kuikuro sempre fica preocupado com as ações antrópicas, sejam elas, desmatamento, poluição, queimadas, invasões, envenenamento de terra e água e entre outros. Nós nos inspiramos em nossas letras para trazer um olhar para essas questões e a atenção para os temas nos afetam, como esses exemplos.