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“Mirror man”: conheça o disco rejeitado (e depois aprovado) de Captain Beefheart

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Números redondos são muito utilizados na hora de fazer retrospectivas. Nas retrôs de 2016 faltou comemorarem os 45 anos de “Mirror man”, disco histórico e misterioso de Captain Beefheart and His Magic Band, gravado entre outubro e novembro de 1967 (bom, cinquenta anos em 2017, não?) e lançado só em 1971. Um álbum repleto de jams entre o jazz e o rock psicodélico, bem pouco ouvido e bastante cultuado pelos fãs do grupo. E que você precisa conhecer.

Considerada um dos grupos mais inovadores da história do rock, a Magic Band tinha só um disco lançado na época em que as músicas de “Mirror man” foram gravadas. E era a estreia “Safe as milk” (1967), lançada por uma gravadora histórica da cultura pop americana, a Buddah Records, mais conhecida por despejar lançamentos de bandas de bubblegum rock (Ohio Express e The 1910 Fruitgum Company vieram de lá), mas chegada em experimentalismos. O disco deu status de gênio ao Capitão – que aliás se chamava Don Van Vliet (1941-2010).

“Mirror man” era para ter sido um dos LPs do álbum duplo “It comes to you in a plain brown wrapper” – projeto que acabou abandonado. Algumas músicas desse set foram lançadas no segundo LP de Beefheart, “Strictly personal” (1968), que o produtor do grupo, Bob Krasnow, teria feito por meio de um contrato envolvendo o selo Kama Sutra, distribuído pela MGM e posteriormente pela Buddah. Uma reportagem da “Rolling Stone” publicada em 14 de maio de 1970 diz que Krasnow armou para o contrato do músico com a Buddah expirar e lançou o disco por seu próprio selo, Blue Thumb.

O material do que seria “Mirror man”, gravado em meio às sessões do segundo disco, ficaria guardado nos depósitos da Buddah por quatro anos até chegar às lojas e viraria lenda entre os fãs. Ao contrário das músicas de “Strictly..”, criticadas pelos efeitos psicodélicos de araque que Krasnow teria metido nas canções (e que provocaram a ira de Beefheart, que sempre disse que Krasnow lançou o disco sem sua autorização), a ideia era que o material do álbum fosse psicodélico de berço, com longas jams de estúdio.

O encarte do LP avisa erradamente que o disco foi gravado numa casa nas colinas de Hollywood, “numa única noite em Los Angeles em 1965”. Captain Beefheart (voz e gaita), Alex St. Claire Souffer, Antenna Jimmy Simmons (guitarras), Jerry Handsley (baixo) e John “Drumbo” French (bateria) gravaram o disco em 1967 na meca dos grandes estúdios norte-americanos, sim, mas foi no estúdio TTG, que costumava ser usado por artistas como Frank Zappa, Doors, Jimi Hendrix, Monkees, Eric Burdon e (olha só!) até o Velvet Underground. Se você não sabe, três músicas de “The Velvet Undergrond & Nico” (1967), “I’m waiting for the man”, “Venus in furs” e “Heroin” foram gravadas lá em dois dias do ano de 1966.

Nigel Cross, autor das liner notes do disco, explica que na gravação “os integrantes, como se diz, ensaiaram e tocaram hipnotizados, sob o efeito de largas porções de LSD. Menos Beefheart, que se absteve da droga. É possível imaginar Beefheart vestindo uma capa e tocando sax soprano na lua cheia, em meio às árvores e a selva”. Se o líder do grupo, alega-se, nem tocou no ácido, sua namorada tinha um pouco de LSD e decidiu jogá-lo… na xícara de chá do batera Drumbo, em meio às sessões do disco.

“Foi só uma pequena dose, mas o suficiente para me deixar fora do ar, achando que tudo o que eu fazia era genial”, disse o baterista em entrevista ao site Psychedelic Baby. Trumbo, que escreveu suas memórias da Magic Band no livro “Beefheart: Through the eyes of magic”, não ama loucamente o disco. “Foi só um trabalho rápido com produção pobre, lançado para recuperar o investimento feito nas sessões”, contou o músico, reclamando também que o espelho quebrado da capa trazia uma formação da Magic Band que não era a do álbum.

Olha aí Captain Beefheart tocando “Mirror man”, a faixa-título, em 1974 no festival PinkPop:

E aqui, você ouve todo o disco e tira suas próprias conclusões. “Mirror man” foi lançado em CD pela primeira vez em 1988. Em 1999 saiu uma edição com todas as sessões feitas para o disco. Nesse relançamento, para a alegria de Drumbo, a foto original da capa dançou e foi substituída por uma foto de Beefheart.

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