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MC Bob Dylan

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Tem muita gente que defende que o hip hop partiu do canto meio falado de Bob Dylan em músicas como Subterranean homesick blues. Enfim é uma daquelas teses que volta e meia aparecem por aí. E um detalhe curioso é que Dylan, lá pelos anos 1980, teve uma fase forte de fã de rap.

No livro de memórias Crônicas – vol.1, ele chega a afirmar que os caras do rap estavam “batendo tambores, arrebentando, arremessando cavalos nos despenhadeiros. Eram todos poetas e sabiam o que estava rolando”. Aliás, diz que surpreendeu o produtor Daniel Lanois, que cuidou de discos como Time out of mind e Oh mercy, dizendo a ele que estava escutando bastante Ice-T.

“Ele ficou surpreso, mas não deveria. Poucos anos antes, Kurtis Blow, um rapper do Brooklyn que tinha um sucesso chamado The breaks, havia me pedido para participar de um de seus discos. E ele me familiarizou com aquele lance, Ice-T, Public Enemy, N.W.A., Run-D.M.C”, contou Dylan no livro.

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Sim, porque, se você não sabe, Kurtis Blow, uma lenda do hip hop, contou com vocais de Dylan em uma faixa de seu disco Kingdom Blow, de 1986. Olha aí Dylan soltando a voz em Street rock. Aliás, ela é uma música de nove minutos (!), em que versos gravados pelo cantor de Blowin’ in the wind são reproduzidos ao longo da faixa.

A parte que coube a Dylan tem versos que falam em assuntos da época, como crianças morrendo de fome na Etiópia. Por acaso, você deve saber, pouco antes da gravação com Kurtis, Dylan havia participado do disco do USA For Africa e cantado no hit We are the world.

Os anos 1980, por sinal, foram uma época de bastante experimentação para Dylan, que fez discos moderninhos e mal-compreendidos – já falamos de um deles, Empire burlesque (1985). Aliás, Dylan até convocou gente do punk rock para trabalhar com ele em estúdio nessa época. E fez um filme, Hearts of fire, em que interpretava um rockstar decadente. Mas isso é outra história.

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Já Kurtis Blow, com Kingdom Blow, lançava seu sétimo disco – ele tinha sido um dos inauguradores da cultura hip hop e dos álbuns de rap, com o LP epônimo de 1980. Mas sua carreira discográfica só teria mais um disco, Back by popular demand (1988). Depois disso, Kurtis se tornaria mais conhecido como ator, apresentador e, após sua conversão ao cristianismo em 1994, ministro fundador da Igreja Hip Hop no Harlem (!). Olha ele pregando aí.

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