Crítica

Ouvimos: Matt Berninger – “Get sunk”

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RESENHA: Matt Berninger lança Get sunk, disco solo introspectivo com ecos de David Bowie e Neil Young, sobre depressão, perda e beleza na escuridão.

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Matt Berninger, cantor do The National, andou sofrendo bastante nos últimos anos. Uma depressão brabíssima que ele teve em 2020 afetou o repertório de sua banda – os dois álbuns lançados pelo grupo em 2023, Laugh track e First two pages of Frankenstein, traziam o músico tentando voltar a compor e cantar. Seu segundo álbum solo, Get sunk, lida com a sensação de ter estado afogado em climas ruins por quatro anos. Aliás, tenta explicar esses sentimentos para a/o ouvinte.

A musicalidade de Get sunk tem o mesmo clima de paraíso perdido de discos como Country life, do Roxy Music, e a mesma ambiência dos primeiros álbuns de Neil Young, e de Hunky dory, de David Bowie – ou seja: é um disco que encontra beleza e uma certa vibe sexy na introspecção, e se alimenta disso. Tanto que em faixas como No love, Inland ocean e Frozen orange, além do single Bonnet of pins, a ideia é criar um clima elegante e belo, com os vocais de Matt equilibrando-se entre referências de Leonard Cohen, Bryan Ferry, Serge Gainsbourg e até Kevin Ayers.

Climas de R.E.M. e Pink Floyd, por sua vez, surgem em Breaking into acting e Little by little. Nowhere special, por sua vez, é uma música quase falada, soando como uma tentativa torta de reproduzir os raps sem convicção de Serge Gainsbourg – na real, parece mais um texto enorme encaixado à força numa melodia, e que precisava ter sido editado para virar música. Fechando o disco, a ótima Times of difficulty relaciona-se com o lado mais tranquilo de Lou Reed, com os Rolling Stones de 1970/1971 e ate com bandas como Faces.

As letras, por sua vez, dão clima pesado e desnorteante – por acaso Get sunk já vinha sendo feito desde a época de barra pesada de Matt, em 2021. Em No love, Matt diz que “este lugar tem uma sensação de afundamento / a energia é tão estranha”. Inland ocean avisa que “causa perdida, não tenho emoção / nenhuma emoção (…) / não há nada que eu possa fazer? / tudo acaba antes que eu queira”. Nowhere special repete várias vezes frases como “não tenho nenhum lugar para estar” e “não sei para onde ir”. Ouça quando nada puder te abalar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Concord Records
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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