Notícias
Marthe Sessions: apresentando o novo som do Piauí

O Marthe Festival teve três edições físicas entre 2017 e 2019, com mais de 50 apresentações musicais em mais de dez espaços de Cultura de Teresina (Piauí). O evento volta em edição de bolso neste fim de semana, e – por causa do aumento de casos na pandemia – rola apenas online. O Marthe Sessions vai trazer cinco nomes da região: Bia e Os Becks, Caju Pinga Fogo, Florais da Terra Quente, Monte Imerso e Narcoliricista.
A ideia é ocupar espaços: no sábado (22, meio-dia) e no domingo (23, ás 15h) o evento rola em pré-estreia na TV Assembleia. A gravadora Hominis Canidae Rec, realizadora do evento, vai transmitir tudo no dia 29 em seu canal do YouTube. Além disso, vão sair EPs ao vivo com as apresentações, igualmente distribuídos pelo selo em todas as plataformas.
Batemos um papo com Diego Pessoa, produtor do evento, e ele contou um pouco pro Pop Fantasma o que tá vindo aí – e quais são os planos para esse 2022 ainda repleto de dúvidas seríssimas, ainda mais na área da cultura.
Como tá sendo fazer o Marthe Sessions online e como foi o preparo para isso?
Tá sendo uma parada muito mais cinema do que evento e música/ festival. O projeto é uma ideia até anterior a pandemia, mas o projeto era bem mais modesto do que acabou acontecendo agora. Sempre achei que seria interessante registrar em vídeos artistas daqui, inclusive em performances ao vivo realmente, nos espaços que fui nas vezes que vim aqui em Teresina antes de morar. Rolavam uns lances bem interessantes que surgiam meio que do nada.
Com a pandemia, bolei o projeto no intuito de apresentar um pouco da nova cena piauiense para o Brasil e também mostrar um ponto turístico ou um espaço bonito de Teresina pra quem é de fora e por que não da cidade. Teresina é extremamente espalhada, os moradores daqui nem sempre conhecem todos os espaços da cidade, então na minha cabeça era a forma de eu conhecer espaços e apresentar. Foi aí que surgiu o Parque da Cidade, um lugar enorme e arborizado que no dia lá da session, descobri que várias pessoas estavam indo lá pela primeira vez ou não iam lá a muitos anos. É um lugar que está meio abandonado pela população e pelo poder público, que eu espero que volte a ser mais vivo.
Houve um momento em que se acreditava, no fim do ano, que os eventos presenciais iriam voltar com força total, etc. Como estavam os planos de vocês nessa época? Havia a ideia de fazer uma edição presencial das sessions?
Eu sou biólogo e pesquisei e trabalhei com doenças virais durante boa parte da minha graduação e toda minha pós-graduação. Atrelado a isso, sempre estive envolvido com cultura, seja consumindo e indo em eventos ou produzindo. Eu estou trabalhando full produção cultural / jornalismo cultural desde o final de 2016/ início de 2017 quando vim morar por aqui em Teresina, então estou um pouco enferrujado na parte científica. Mas com a pandemia, comecei a ler diversos artigos no NCBI (Banco de dados internacional que era aberto na universidades de todo o brasil, por conta o governo Dilma), e a capacidade de se espalhar e de gerar novas cepas dessa doença eram bem impressionantes. Então juntando isso e o fato de que a cultura sempre é colocada de lado no Brasil, mais ainda em um período de governo acultural e não científico, nunca estive esperançoso nessa volta com força total.
Viveremos em ondas, acredito que é um momento para fortalecer cenas locais, e acho que será assim nesse ano e talvez no próximo, tudo para conter essa violência extrema do Covid. Então são shows pequenos, com artistas locais ou da região, exatamente para não ter uma bolha tão extensa. Eu acredito nisso e era nesse sentido que estava pensando fazer eventos nesse período de pandemia e pós.
O Marthe teve três edições físicas e todas as bandas que estão nesse projeto já se apresentaram na mostra em algum dos anos.
Qual o conceito do Marthe Festival? O que vocês tinham em mente quando o evento foi montado?
O Marthe Festival surgiu em 2017, quando comecei a me inserir na cena cultural da cidade como morador. Tinha chegado em Teresina em Outubro de 2016 e após virar o ano, comecei a fazer contato com pessoas que já conhecia aqui por conta do Hominis ou pelo fato de ter vindo aqui algumas vezes antes de vir para morar. Como falei, a cidade aqui é bem espalhada e grande, existem diversas cenas (sonoras e regionalizadas) distintas. A ideia era unir linguagens sonoras diferentes no mesmo palco. E não só musical, mas expandir para outros tipos de artes e se espalhar pela cidade.
Como eu tinha contato com o pessoal que organizava o Dia da Música e já tinha realizado palco dentro do evento, resolvi inserir a Marthe como sendo o primeiro palco do Dia da Música no estado do Piauí. O primeiro ano foi um palco no Espaço Cultural Noé Mendes, que fica na Universidade Federal do Piauí, com entrada franca e conseguimos apoio com a prefeitura de Teresina na época. Foram 10 shows com bandas de Teresina, Parnaíba (cidade do litoral do Piauí), Fortaleza e João Pessoa.
Em 2018, tivemos apoio da Prefeitura para palco e som do festival, mas zero apoio financeiro e mesmo assim tivemos o festival com diversas bandas de diversos estilos da cidade, 2 oficinas e palestras gratuitas, uma exposição da artista que fez a arte daquele ano e uma mostra de cinema e música. Tudo de graça com doação de quilos de alimento.
Em 2019 tivemos o nosso primeiro edital, que nos garantiu uma verba de R$ 35 mil reais que foi aplicada na realização de shows em vários espaços de Teresina, com bandas que nunca tinham passado pela cidade como Rakta, Curumim, Guitarrada Das Manas, niLL, Dj Buck, MC Nabru, Jair Naves, Lupe de Lupe, D_M_G, em pelo menos 5 palcos diferentes, se misturando com vários artistas locais e realizando palestras, oficinas e ações gratuitas nesse período, além dos shows com preços simbólicos. A ideia em 2019 foi abrir as portas da cidade para as bandas de fora e também tentar fazer mais bandas daqui conseguirem ir para fora, quebrando essa barreira geográfica. Infelizmente a pandemia atrapalhou tudo, mas surtiu efeito o evento a ponto da gente ter planejado algumas tours pelo nordeste e apresentação na cidade com 4 atrações que nunca tinham vindo aqui no primeiro semestre de 2020, o que obviamente não rolou.
Agora não sabemos se iremos voltar a fazer shows um dia, até por que não sabemos se temos condições de realizar isso.
Como foram selecionadas as bandas dessa session?
Eu gosto muito da proposta das 5 atrações da sessão. Gosto do som, gosto delas ao vivo, acho a mistura interessante e são projetos plurais e que mostram um pouco da identidade cultural do piauí e da mistura de som que é essa cidade. Monte Imerso é um indie rock psicodélico lo-fi aqui do bairro onde moro em Teresina, meninos jovens e cheios de talento. A Florais da Terra Quente é um coletivo de jovens artistas e músicos que escrevem e compõe muito bem e bebem na música regional e brasileira de outros tempos.
O Narcoliricista é meu MC favorito aqui do Piauí, tem uma marra bem hip hop, com uma sonoridade mais boom-bap que eu gosto mais e com boas letras e performance de palco. A banda de Pífanos Caju Pinga fogo é um pouco mais antiga que as anteriores e um dos caras da banda sempre esteve envolvido nos corres da Marthe nos outros anos. Fora que ao vivo é muito legal a mistura de regionalismo com modernidade que eles impõem, mesmo usando elementos tradicionais como pífano, rabeca e percussão. A Bia e os Becks tem dez anos de rolê já e só melhoram a cada apresentação que eu vejo. O som é bem pop e dançante, bem agitado ao vivo, então casou bem com o balanço da proposta.
A ideia era ter três atrações a mais, mas não sabia que o edital da Aldir Blanc de Teresina iria ter o corte total de imposto de renda de 25% do projeto, então tivemos um corte substancial no valor solicitado para proposta e reduzimos algumas ações. Mas tá bonito do mesmo jeito.
A ideia do evento é poder trabalhar com todas as plataformas? Vai rolar exibição na TV, no YouTube, EPs ao vivo.
Sim, a ideia é trabalhar o máximo de plataformas possíveis. Por que a ideia é divulgar a música autoral piauiense para o máximo de pessoas possíveis. Conseguimos colocar a session na TV Assembleia, numa pré-estreia em 2 datas para todo o Piauí na TV aberta. No sábado (22 de Janeiro), meio dia e no domingo (23), às 15h. Depois, o projeto será lançado dia 29 de Janeiro, às 20h, no canal do Youtube do Hominis Canidae. E em fevereiro iremos disponibilizar os sons que foram gravados por canais de forma profissional, mas mantendo aquela vibe que eu adoro de bootleg ao vivo em todos os streams pelo selo Hominis Canidae REC. Um EP de 3 faixas de cada uma das bandas, pra mais gente consumir a música piauiense no máximo de locais possíveis. Eu queria passar no cinema também, mas infelizmente não rola aglomerar no ar condicionado no momento.
Algum plano para 2022? Como estão as movimentações para o evento neste ano?
Por enquanto é trabalhar a session e sentir o terreno cultural brasileiro esse ano, mês a mês, semestre a semestre, com a ideia de shows menores e com atrações mais regionalizadas se possível. Aproveitar que é ano de eleição pra tentar fazer o país voltar para um momento mais cultural e humano e seguir se vacinando, mantendo a saúde em dia. É o que dá pra fazer e pensar no momento. E tentar pagar as contas e viver nesse momento distópico do Brasil, onde o problema é mais politico do que pandêmico, infelizmente. Mas bora mudar no voto esse ano, assim espero.