Cultura Pop

Madonna, John Oates e James Brown debatendo sobre clipes em 1984

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Hoje em dia, quando um artista quer lançar uma música, ninguém nem discute. A primeira coisa que todo mundo que vai participar do lançamento tem que pensar é num clipe legal, bem dirigido, bem turbinado no Youtube, muito bem taggeado para que sua divulgação vá pelo boca a boca e ultrapasse os 2 milhões de views só com a ajuda dos fãs (sei). E que muitas vezes vai ganhar mais valor e ficar mais na memória do que a própria música. Que, enfim, nem precisa ser tão boa assim.

Parece incrível, mas nos anos 1980, ninguém pensava assim. Os donos de gravadora tinham medo que um clipe fizesse sucesso. O motivo? O clipe poderia fazer com que os fãs já se sentissem satisfeitos de ver a música na TV e resolvessem não ir aos shows nem comprar os discos. Por causa desse motivo bizarro, Clive Davis, dono da Arista, queria vetar o vídeo de “Come dancing”, dos Kinks (que se tornaria o maior sucesso da banda nos anos 1980). Pela mesma razão, Kim Carnes mal pôde aproveitar o sucesso de “Betty Davis eyes”, já que a gravadora dela decidiu ignorar o fato de que a MTV estaria no ar dentro de poucos meses, em agosto de 1981, e lançou o clipe por conta própria.

Bom, criado em 1980 em Nova York para debater o mercado da música e seu futuro, o ciclo de debates do New Musical Seminar reunia vários artistas para falar de seus trabalhos e negócios. E ainda rendia entrevistas e shows bacanas. O de 1984, em particular, ficou ilustre a ponto de render um LP-coletânea promocional com os artistas que participaram, feito com a turma que tinha contrato com a EMI americana (Duran Duran, Thomas Dolby, Tina Turner, Roxette em início de carreira). E ficou famoso por um certo debate que reunia nomes como James Brown, John Oates e, em começo de carreira, ainda ostentando poucos hits, Madonna.

Olha aí a cantora de “Everybody” debatendo com essa turma toda sobre o mercado de clipes. Aos 26 anos ela não viu problema em impedir que um estrelão como James Brown interrompesse sua fala. Atalhou e mandou logo sua visão a respeito dos clipes, de que eles levavam uma audiência que não poderia ver seus shows a conhecer sua imagem. E que também era uma boa maneira de chegar às crianças, já que elas (nas palavras da Rainha do Pop) “louvam a televisão hoje em dia”. Quem levou uma carcada que faz os fãs de Madonna vibrarem até hoje foi o bigodudo John Oates (da dupla com Darryl Hall), que deu uma reclamada dos clipes e afirmou que músicos não são atores. “Mas quando você está num palco, está atuando. No clipe a diferença é que você tem uma câmera apontada para você. Você está atuando agora!”, respondeu Madonna.

De brinde, você ganha uma entrevista em que Madonna fala sobre como ela via seu trabalho (“música para mim reflete o seu tempo, a política, a moda, a energia”) e anuncia que estava terminando um disco com produção de Nile Rodgers (“Like a virgin”, que sairia em novembro).

De brinde, pegue aí Daryl Hall e John Oates dando uma atuada de leve no clipe de “Private eyes”, uma das melhores músicas da dupla – o vídeo foi feito uns três anos antes desse debate.

 

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