Crítica

Ouvimos: Lorde – “Virgin”

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RESENHA: Lorde rompe com o passado em Virgin, disco íntimo e sombrio que mistura pop minimalista, desabafos e eletrônica densa.

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Tão dizendo por aí que Virgin, o quarto disco de Lorde, é o que sua estreia Pure heroine (2013) deveria ter sido, se na época ela não tivesse 17 anos. Faz sentido, embora Ella Marija Lani Yelich-O’Connor (nome verdadeiro da cantora) não fosse exatamente uma artista disposta a chocar e a confundir quando mais nova. Na época, ela basicamente ela se divertia desafiando os limites do mercado pop com versos cortantes e uma sonoridade sombria.

Na real, nem dá para dizer que há uma disposição em “chocar” (no sentido sensacionalista da coisa) aqui. O material de Virgin veio de questionamentos e desabafos sinceros. E que soam mais sinceros ainda pelo lugar que o álbum ocupa na carreira dela – o lugar de disco bastante aguardado, e que trouxe para o fã-clube dela uma turma que tem hoje a idade dela quando começou. Virgin também foi estrategicamente montado por ela e seus parceiros-produtores para combinar sensorialmente letras, músicas, arranjos e narrativa.

As questões sobre sexualidade que ela vem falando em entrevistas já abrem o álbum com Hammer, uma balada introspectiva, mas dada a explosões, em que ela fala frases como “não tenho todas as respostas”, “paz na loucura”, “cartão-postal da borda”, entre outras sentenças bem mais espinhosas que a narrativa do tranquilo Solar power (2021), disco anterior. Um álbum que acabou chamando infelizmente mais atenção pela capa sexy e pelas músicas declaradamente emaconhadas.

Virgin soa o tempo todo como algo detalhadamente trabalhado, e não excessivamente trabalhado. Os arranjos são quase minimalistas, as seguranças e inseguranças das letras são universais e comuns, a perda da inocência citada na dance music sombria Current affairs pode acontecer aos 40 ou 50 anos. Em meio ao som eletrônico e texturizado de What was that, mais inseguranças, drogas e amores em que só uma parte dá o suficiente.

O repertório de Virgin também abarca crueza quase industrial referenciada no blues e no jazz (o single Man of the year), indie pop com frieza controlada e interpretada (Shapeshifter), um eletrorock sobre cobranças, estresses e busca da perfeição (Favourite daughter) e bjorkices (as vozes e efeitos de Clearblue). Broken glass soa quase como um baile funk indie, com uma letra seca sobre transtorno alimentar – e climas próximos do soul e do synthpop surgem em If she could see me now e David.

De modo geral, Virgin é um disco marcado pelo silêncio antes do chute no balde, e pelo esporro após a explosão. Lorde decidiu romper com tudo, inclusive com suas versões anteriores, e pôs a busca por um novo mapa nas músicas. Deu super certo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Republic/Universal
Lançamento: 27 de junho de 2025

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