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Let my people come: geral pelado no palco

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Ter saudade dos anos 1970, ainda que os tempos de hoje sejam marcados por governos imbecis e coronavírus, chega a ser sacanagem. Mas pelo menos, se você resolvesse dar uma volta em Nova York, poderia conferir um musical chamado Let my people come (“deixe meu povo gozar”), com músicas como Come in my mouth (“goze na minha boca”), Dirty words (“palavrões”), The cunniligus champion of Company C (“o campeão de sexo oral da companhia C”) e outras amenidades. Com quase todo mundo pelado no palco.

Conhecido como “um musical sexual”, Let my people come era obra de um sujeito chamado Earl Wilson Jr – cujo pai era um conhecido colunista de jornal de Nova York, que chegou até mesmo a cobrir o Carnaval carioca de 1961. A peça passou dois anos e meio no circuito off-Broadway. Abriu os trabalhos no dia 8 de janeiro de 1974 no Village Gate, clube novaiorquino cuja agenda de shows incluia de antigos jazzistas ao Velvet Underground. O musical ficou por lá até 5 de julho de 1976, quando iniciou uma temporada de vários previews na Broadway.

Aqui tem umas imagens da peça. Aliás, Let my people come ficou tão popular que teve até um filme que parodiou o musical, Let my puppets come, em que atores simulavam sexo com fantoches no estilo Muppets (você já leu sobre isso aqui).

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O sucesso do musical não ficou restrito à temporada inicial em Nova York: Let my people come ficou em cartaz durante dez anos no Canadá e teve temporadas em Londres. Nesse texto aqui, o próprio Earl Wilson Jr conta vantagem dizendo que se tratava do “maior musical off-Broadway da história” (provavelmente foi mesmo). E recorda que a trilha sonora, com músicas como I believe my body e I’m gay, fez muito sucesso em bares frequentados pela galera LGBTQIA+ da época.

Sim, porque Let my people come ainda por cima teve um LP de trilha sonora. O material foi todo composto pelo próprio Earl e arranjado por Billy Cunningham, e chegou a ganhar um Grammy. Não é um disco muito raro não – o Discogs indica que alguns exemplares trocam de mão pela bagatela de R$ 5 (!!).

Logo após o sucesso no Village Gate, a peça começou uma temporada de previews na Broadway, mas sequer chegou a ter uma abertura oficial. Isso porque Earl Jr ficou bastante incomodado com algumas mudanças que viu na peça. Pediu para que seu nome saísse dos créditos, alegando que o conteúdo estava ficando vulgar. Na ideia original do dramaturgo, a galera ficava pelada no palco, e no final aparecia todo mundo sem roupa. Mas o objetivo era colocar a liberdade sexual na história, como já vinha acontecendo com alguns musicais safadinhos da época (Oh! Calcutta, de 1969, provocou o maior escândalo).

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A história de Let my people come não parou aí. A peça continuou voltando aos palcos, inclusive nos anos 1980. E mais recentemente, em 2013, chegou a ser anunciado um retorno da peça, para uma temporada no Underground, um bar na Universidade de Columbia. Só avisaram que haveria uma adaptação e que o musical teria “bem menos nudez que o original”.

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