Cultura Pop
Lendas urbanas históricas 5: O Pokémon chifrudo
Voltamos com o quinto capítulo da nossa série sobre lendas urbanas, começando lá pelos anos 1980 e prosseguindo com as lendas que fazem a turma mais nova morrer de medo (essas lendas existem?). Aliás, até mesmo o inocente personagem Pokémon fez das suas…
A LENDA DO POKÉMON CHIFRUDO (1996 ATÉ OS DIAS ATUAIS)
Há várias lendas urbanas envolvendo o Pokémon, jogo da Nintendo. Além de seus derivados.
Desenvolvido desde 1990 por Satoshi Tajiri, designer japonês, o jogo foi lançado em 1996. E foi um sucesso mundial por vários anos, sempre aperfeiçoando suas versões e conquistando milhares de usuários ao longo de mais de duas décadas.
Mas, segundo os boatos, que ocorrem já desde sua primeira versão, o jogo e os desenhos animados têm tudo pra ser algo maléfico. Incluiria símbolos satanistas, símbolos da maçonaria (a religião até hoje suscita várias teorias da conspiração entre cristãos) e até faria apologia ao suicídio através da trilha sonora de uma fase do jogo da primeira geração.
Isso vem sendo propagado por pastores e padres há anos. Mas o que levou a tanto mimimi sobre este inocente jogo? Dizem as más línguas dos pastores americanos – aqueles que se dirigem às grandes plateias – que o seu criador, Tajiri, era um jovem que debochava do cristianismo. E assim, de forma sutil, inseriu elementos codificados no design do jogo.
ENTREVISTA DO MAL
Boa parte dessas fofocas vieram de uma suposta entrevista que Tajiri teria dado à revista Time em 2012. No papo, Tajiri disse (disse?) que odiava o cristianismo e que havia criado o jogo como uma afronta ao que aprendeu dos pais. Que, curiosamente, seriam cristãos no Japão, país mais ligado ao xintoísmo e ao budismo. Ao ouvir a pergunta sobre as referências satânicas do personagem, Satoshi não concorda, mas também não discorda. E de forma discreta soltou (soltou?) o famoso “pensem como quiserem”.
Mas nada disso: o bate-papo era falso e foi criado por um site chamado Play4Real. Tajiri deu sim, uma entrevista à Time, bem mais amena, em 1999. No papo, dizia que nunca tinha ouvido falar dessa história de que Pokémon era o diabo, e que sabia que falavam algo parecido do personagem Harry Potter.
COISA RUIM
Vejamos os pontos em que o jogo causou repulsa e foi tema de sermões acalorados de pastores e padres desde sua estreia em 1996. A primeira versão, lançada exclusivamente no Japão, tem uma fase cuja trilha é bastante irritante e soturna. Diz a lenda urbana que centenas de crianças japonesas entre 07 e 12 anos tiraram as próprias vidas enquanto estavam nesta fase.
A Nintendo desmentiu, mas logo mudou este modo em que a tela fica “roxa”. Aliás, modificou também a trilha, dando mais pano pra manga. E Pikachu, o dócil bichinho amarelinho com aquelas orelhinhas compridinhas, na verdade é visto como o próprio “coisa ruim” suavizado, e as suas orelhas são os “chifres” disfarçados.
CONVULSÕES
Outra suposta ocorrência bastante perturbadora ocorreu com a estreia do desenho animado em 1997, no Japão, quando crianças convulsionaram e vomitaram em determinada cena. Além de outros problemas relacionados à técnica de animação “paka-paka”, por conta das fortes luzes coloridas e pulsantes.
O que se sabe desta história é que as crianças tiveram crises epiléticas, pois a cena tem luzes e cores vibrantes, prejudicais a pessoas sensíveis. Aliás, no tal papo com a Time, ele disse que no Japão as pessoas sentavam mais perto dos aparelhos de TV porque os quartos eram pequenos, o que possivelmente causou esse desastre.
Já no Reino Unido, com o lançamento das cartas Pokémon colecionáveis, várias crianças teriam formado gangues mal encaradas e violentas para roubar cartas dos amiguinhos na base do tapa, causando grandes problemas para a polícia britânica. Só que, sim, isso aconteceu mesmo. Enfim, já pensou você, fã, correndo atrás do Pokémon GO, aquele aplicativo lançado em 2016, e dar de cara com o “cruz credo”? Eu, hein.
A fase roxa da primeira versão do jogo Pokemón
Um raro vídeo (em japonês) com Satoshi Tajiri (1989)
Confira as outras lendas da série aqui.