Cultura Pop
Lembra do Rain Tree Crow, a fase 2 do Japan?
Há alguns dias, a gente levantou uma série de causos a respeito da banda britânica Japan no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento. A história do grupo liderado pelo cantor e compositor David Sylvian encerrou-se logo no comecinho dos anos 1980, e a banda passou por diversas fases: descrédito inicial por parte dos jornalistas de música, baixas vendagens, pouca compreensão do mercado, sucesso no Japão (ora vejam só), união entre rock, sons eletrônicos e experimentalismo, sucesso finalmente e… fim abrupto.
Depois disso, os integrantes foram cada um pro seu lado – e quem teve a carreira mais ilustre foi o líder do grupo, David Sylvian, inclusive seguindo para um lado meio pop, meio vanguardista que fez a alegria de vários fãs da banda. Só que em 1989, rolaria um reencontro dos quatro integrantes da fase final do Japan. Sylvian (voz, guitarra, teclado), Mick Karn (baixo), Richard Barbieri (teclados) e Steve Jansen (bateria) voltariam, só que com o nome Rain Tree Crow.
Essa fase renderia apenas um álbum, lançado em 8 de abril de 1991 pela última gravadora do Japan, a Virgin. Rain Tree Crow, o disco, foi produzido pela própria banda, gravado em vários estúdios ao redor do mundo (a maior parte do material veio de sessões na Itália e na França) e representou um passo à frente na musicalidade do Japan nos dois últimos discos, Gentlemen take Polaroids (1980) e Tin drum (1981). Unia rock, música eletrônica, pop de vanguarda e até jazz fusion àquilo que o mercado já chamou de “world music”, em músicas de longa duração – num espelho do que o Japan tinha feito nos dois últimos discos, que tinham essas particularidades.
Big wheels in shanty town, essa música de sete minutos, com percussões, baixo fretless, vocais feitos pela cantora guianense Djene Doumbouya e clima um tanto mais experimental que os de álbuns de bandas como Talk Talk, abre o disco.
A bela Blackwater ganhou clipe, por exigência da gravadora. Diz Mick Karn que o vídeo foi feito com pouquíssima interação entre os integrantes, para evitar mais tensões do que já havia rolado.
A Virgin aporrinhou o saco da turma para que o disco fosse lançado como Japan, e não como o primeiro disco de uma banda nova – tanto que nem mesmo nos álbuns anteriores, o grupo teve direito a um orçamento tão grande ou a tanto tempo em estúdio. Só que o quarteto queria fazer algo diferente, e que pelo menos não se parecesse tanto com a encarnação anterior. Para começar, boa parte do material foi amplamente improvisado em estúdio – com direito a deixar o tape rolando e ver o que acontecia, e depois editar as canções. Ao contrário dos álbuns do Japan, em que tudo já era feito de antemão por Sylvian, as músicas foram feitas em grupo.
Numa entrevista dada nos anos 1990, Mick Karn recorda que inicialmente o disco seria até um tanto mais pop e acessível. Só que a banda foi demorando para gravar o álbum, várias tensões apareceram em estúdio e as coisas foram ficando bem mais experimentais do que o próprio Rain Tree Crow esperava no começo. Ele comenta também que nem tudo foi tão democrático assim na elaboração do disco: afirma que Sylvian, desacostumado a não estar no comando, foi tomando o controle aos poucos, e chegou a retrabalhar todo o álbum antes dele sair. Karn diz que o músico vetou até mesmo a entrada de um guitarrista solo (David Torn, que já trabalhava com o baixista). A visão de Sylvian sobre todo o trabalho tá aqui.
Bom, a história do Rain Tree Crow só duraria esse disco, até porque, de fato, os estresses eram muitos. De qualquer jeito, quase todo o Japan, menos David Sylvian, participaria de um desvio prog do Japan/Rain Tree Crow chamado… JBK. Essa banda gravou três álbuns e dois EPs por um selo próprio chamado Medium Productions. Mas aí é outra história, que depois a gente conta.
E siso aí é um papinho promocional (em inglês, sem legendas) com o Rain Tree Crow.