Cultura Pop
Quando LaTour fez uma música perguntando se as pessoas ainda fazem sexo
Não existe nada 2021 do que a preocupação a respeito de se as pessoas ainda estão fazendo sexo – em meio a uma pandemia, isolamento, fanáticos antivax e gente que mal sabia colocar uma camisinha, e hoje mal sabe colocar uma máscara. Mas o que você diria se descobrisse que há 30 anos, mesma época em que Nirvana lançava o clássico Nevermind, já havia gente preocupada com o assunto? Pois é: em abril de 1991 o músico e DJ americano LaTour lançava seu clássico People are still having sex, que fez um sucesso considerável. Chegou ao topo das paradas de dança nos EUA e Canadá, atingiu o número 35 na Billboard Hot 100 e o número 15 no Reino Unido.
Olha o clipe aí.
LaTour (cujo nome completo era William LaTour) acrescentava o hit a um currículo sui generis. Para começar, ele desde criança fazia paródias de canções famosas, e chegou a ter um hit-comédia: sua releitura de Rock me Amadeus, do alemão Falco, com nome e letra mudados para Rock me Jerry Lewis. Creditada a Bud LaTour, essa versão fez sucesso no melhor lugar possível para dar abrigo a coisas malucas: o Dr Demento Radio Show, que tinha um paradão só de canções pretensamente engraçadas (ou deslavadamente sem graça) e que era distribuído para várias rádios americanas. LaTour foi também integrante de uma banda punk em Chicago, The Squids. Ficou no grupo até 1991 e passou a mexer com dance music.
O nome Bud LaTour, com o qual ele assinava a tal paródia, tinha sido seu pseudônimo no rádio: já antes da (breve) fama William passara por várias emissoras. Na época de People are still having sex, ele estava em seu emprego de maior alcance e status até o momento, na WBBM-FM, de Chicago. Ficou lá até 1992. Em 1998, passou a trabalhar à noite numa emissora de Chicago, a WXXY.
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A ideia de People are still having sex era falar da paranoia da aids, mas com aquele humor corrosivo típico dos anos 1990 – e que hoje seria mal compreendido por muita gente. LaTour (definido pela Entertainement Weekly como “um ex-produtor de comerciais”, o que respondia por apenas algumas de suas funções) falava com voz de locutor de rádio sobre o fato das pessoas não terem deixado de transar e de “nada poder pará-los”.
O mais engraçado da música, como você pôde conferir acima, é o tom pretensamente sério da voz de LaTour. Só que houve uma mudança na letra original para não assustar muito a turma de rádio: o verso “essa coisa da aids não está funcionando” foi mudado para “essa coisa segura não está funcionando”.
A faixa fazia parte do primeiro disco de LaTour. O disco epônimo saiu pelo selinho punk Slash (em parceria com a Polydor) e trazia faixas na mesma linha, como Laurie Monster (se é uma zoeira com a musa ambient Laurie Anderson, não sabemos), Fantasy soldiers e Alien’s got a new hi-fi. O disco teve produção reduzidíssima, com LaTour e o parça Mark Picchotti dividindo samplings, programações, produção e teclados. A Entertanment Weekly recebeu o hit do DJ e músico com frieza.
“Se você realmente quer saber como a música eletrônica de dança pode ser assustadora, estranha e divertida, é melhor com o tecnopop do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 – Kraftwerk e Yello – lançado em um momento em que as pessoas estavam fazendo mais do que apenas contemplar o sexo”, escreveram lá.
O LaTour não parou aí: lançou mais dois LPs, um EP e vários singles, e William LaTour depois foi se concentrando mais no trabalho como executivo de rádio – está até hoje em emissoras nos Estados Unidos. E seu único hit, que maluquice, é mais contemporâneo que muita música lançada em 1991.