Cultura Pop

Jogaram as (raríssimas) edições da revista “Avant Garde” na internet

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A revista norte-americana Avant Garde deu voz (e imagem) à mistura de arte pop, erotismo e politização num período bastante turbulento – foram quatorze edições entre janeiro de 1968 e julho de 1971, que trouxeram atrações como o concurso de pôsteres com o tema “no more war”, as versões psicodelicas dos pôsteres de Marilyn Monroe (feitas por Bert Stern) e as litografias eróticas feitas por John Lennon. Feita em Nova York, ele era editada pelo escritor e fotojornalista Ralph Ginzburg, conhecido por seu trabalho com arte erótica. Em 1963 foi processado por ter editado uma revista chamada Eros, proibida pelas leis federais de obscenidade após o quarto número. Entre 1964 e 1967 editou a fact: (assim mesmo, com minúsculas), mais voltada para a sátira de política e comportamento, e com pouco conteúdo erótico. O diretor de arte era Herb Lubalin.

E uma novidade é que um sujeito chamado Alexander Tochilovsky, curador do The Herb Lubalin Study Center, pôs toda a coleção da Avant Garde na internet, num site bastante prático. Olha aí (e se você ficou curioso para conferir as litografias de John Lennon e as imagens de Marilyn, só cair direto aqui e aqui).

Na época, a Avant Garde fez bastante barulho entre artistas e formadores de opinião. Mas o que pegou mesmo foi a fonte de letras usada no titulo da revista, que ganhou o nome da publicação.

Criada por Lubalin a partir de um briefing de Ginzburg, a fonte Avant Garde foi feita inicialmente apenas para ser usada na logo da revista, e não para uso comercial. E rendeu muita dor de cabeça para o editor e para o designer, já que os dois não se entendiam quanto ao conceito do logotipo da publicação. Numa reportagem publicada no próprio site da Avant Garde (clique no site e vá na seção Typeface), Ralph diz que Herb demorou para entender o conceito que ele tinha em mente e apresentou exemplos que não funcionavam.

Com a fonte criada, todas as manchetes da revista (por decisão do diretor de arte) passariam a utilizá-la. Só que depois viriam mais problemas, já que Herb (segundo Ralph), ao criar todo um abecedário para a fonte, ignorou o pedido de Ginzburg para que utilizasse o R circulado de “marca registrada” no projeto. O resultado é que a fonte foi copiada por muita gente, com ou sem autorização, e virou mania nos anos 1970. Olha aí, ó.

A ARTE DE FULANO. A antiga Philips, hoje Universal, usava bastante a fonte e suas variações em capas de discos, inclusive numa série chamada “A arte de…”, que ficou famosa e teve reedições até em CD. Discos de Caetano Veloso como “Muito” (1978) e “Cores, nomes” (1982) também tinham essa fonte nos logotipos – o baiano voltou a usá-la na capa de “Cê” (2006).

GLOBO E SOM LIVRE. Se você olhou pro logotipo da Avant-Garde e achou tudo muito parecido com uma coisa que você já viu um trilhão de vezes, mas não sabe o que é, tá aí a resposta: tanto o logotipo que a Rede Globo passou a usar em 1976 quanto o que a gravadora Som Livre usou entre 1978 e 1999 TAMBÉM são variações da mesma fonte, com modificações feitas por Hans Donner.

E vale dizer que essa fonte Avant Garde ainda é largamente utilizada (e largamente destroçada), a ponto de há alguns anos ter ficado bastante popular um texto que recomenda que ela NÃO seja usada. Olha aí.

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