Crítica
Ouvimos: João Jardel – “Anti-pop”
RESENHA: João Jardel lança Anti-pop, disco direto e incômodo que mistura funk, pós-punk e crítica social com raiva contida e versos afiados.
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João Jardel vem de Itabira (MG) e, desde 2020, tem lançado músicas que fogem de qualquer padrão. Sempre mirando um cruzamento próprio entre música eletrônica, funk carioca, pós-punk, crítica social e uma visão bem particular de rap – mais próxima da spoken word. Anti-pop é seu primeiro disco cheio, feito ao lado do produtor R. Honório. E do começo ao fim, é um disco que vive do confronto. Confronta até quem ouve o disco, com versos afiados e problematizações certeiras.
Mandando bala numa raiva contida que vira manifesto, João fala de racismo e enfrentamento no funk O pretocore (com Spooky Sam de convidado), combate o cinismo institucional em O cínico (onde grita: “eu odeio o jogo e o jogador!”), parte para o eletrohardcore em faixas como O excesso e O catalisador, e mergulha no industrial abrasivo para falar de política e hipocrisia racial em O cronista (“pornografia pra branco é Karol Conká no tribunal das redes”, afirma a letra).
O corpo traz um som mais calmo, mas distorcido, como numa fita velha. Mas ao lado de O amor, música até romântica se comparada ao restante do álbum, são os únicos momentos de calma de Anti-pop. Afinal, estamos falando de um disco cuja faixa título fala sobre como as ideologias e a ética morrem diante da falta de grana. E em que o terror cotidiano é assunto de todas as faixas – mas ele ganha protagonismo em O medo e O spoiler. A primeira traz falas soltas em que um personagem masculino garante que não é uma pessoa violenta. A segunda soa como uma pulga atrás da orelha de quem já está com a mente cozida pelas redes sociais. No fim das contas, um disco onde a beleza é o incômodo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Diáspora
Lançamento: 4 de maio de 2025