Cultura Pop
Aquele grande sucesso do pop-rock, “O amor é uma merda”
Quando saiu, em 1980, “Love stinks”, nono disco da J. Geils Band (que existe desde 1967 e, entre idas e vindas, está aí até hoje infelizmente John Warren “J.” Geils Jr, o J. Geils, morreu em 11 de abril) muitos fãs ficaram descontentes. O blues-rock da banda ganhou uma cara meio, vamos dizer, newwavizada, com sintetizadores, corais e um glacê propício para rolar nas FMs comerciais dos Estados Unidos. Seja como for, a banda, que estava sem gravar havia dois anos e precisava mesmo de um grande sucesso, conseguiu voltar às rádios com uma música de desamor prefeita para pessoas descontentes com o Dia dos Namorados. Enfim, se você passou ontem o Valentine’s Day sozinho/sozinha, pega aí “Love stinks”.
“Você a ama/mas ela o ama/e ele ama outra pessoa/você simplesmente não consegue vencer/e assim vai, até o dia em que você morrer/ (…) Uma coisa é verdade: o amor é uma merda”. Perto do total desencanto da letra, o narrador-personagem de “Love will tear us apart”, do Joy Division (cuja letra foi composta, você sabe, por Ian Curtis, um sujeito que tinha esposa, amante e groupies animadinhas), chora de barriga cheia. O clipe original trazia imagens edificantes, como as de um casal usando máscara contra gases, o vocalista Peter Wolf – um dos autores da música – dividindo o leito nupcial com um peixe e a sequência em que aparece um sujeito, aparentemente desprovido de dentes, tentando comer um tomate.
Na época, o que se falava é que a letra refletia o fim do casamento do vocalista Peter Wolf com a bela atriz Faye Dunaway (de filmes como “Bonnie and Clyde” e “Chinatown”). A união durou quatro anos e a canção saiu exatamente um ano depois do divórcio assinado. Wolf e Faye, aparentemente, não têm mágoas um do outro – volta e meia até davam respostas bastante respeitosas quando eram perguntados a respeito do fim da união em entrevistas. Mas pelo visto havia muitos descontentes por aí, já que essa música tocou pra burro em rádio, inclusive no Brasil, e devolveu a banda de volta ao sucesso. No Canadá, chegou ao número 15 nas paradas.
Uma prova de que Wolf sabia bem com quem estava falando quando compôs a música (ao lado de Seth Justman, tecladista da J. Geils): Adam Sandler, rei da galera que acha que o amor é uma merda, cantou a música no filme “Afinado no amor”, de 1998 – seu personagem no filme era um cantor de casamentos (o nome original do longa é “Wedding singer”) e ele soltou a voz numa festa. Acabou apanhando dos convidados.
Joan Jett gravou a música dois anos antes do filme de Sandler – e a deixou bastante parecida com “Vicious”, de Lou Reed. E foi uma versão feita para a trilha de outro filme, a comédia “Deu tudo errado”, um fracasso total em que Ellen DeGeneres interpreta uma presidiária chamada Martha Alston.
E se a raiva é uma forma de energia, como dizem por aí, pega aí a versão da música feita pela banda de metal industrial norte-americana Bile (e nesse caso, não é apenas o amor que é uma merda, já que o clipe e a releitura, Deus me livre).