Crítica
Ouvimos: Indigo de Souza – “Precipice”
RESENHA: Indigo de Souza mistura indie e pop em Precipice: sonhador e estrelado, fala de amores feridos, perda e superação, com voz entre canto e uivo.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Tem aquele momento em que o mainstream finalmente entende um artista indie – e tem aquele momento em que um artista indie finalmente entende o mainstream. Norte-americana filha de músico brasileiro (o violonista bossanovista Arildo de Souza), Indigo de Souza já vem fazendo essa travessia já faz algum tempo, mas sem dar adeus a seu “eu” dos discos anteriores.
Precipice, seu quarto álbum, é acessível e (vá lá) “indie”, no sentido de que os fãs antigos vão reconhecer seu passado nas novas músicas – e igualmente no sentido de que fãs do Haim e de Phoebe Bridgers podem acabar se apaixonando pelo repertório. Aliás, Indigo divide fãs com os seguidores delas e provavelmente já estão todas e todos ouvindo as histórias de amor machucado e crescimento difícil que ela canta em Precipice. Que é um disco, normalmente, de aspecto sonhador e tranquilo, praticamente dream pop, em faixas como Be my love, Crying over nothing, o soft rock Be like the water e a voadora Clean it up.
Indigo, mais do que em todos os seus outros discos, volta com uma certa cara de (aham) estrela pop – aquele tipo de artista que já chega com conceito e estilo próprios. Mas o crossover não parece ter sido feito em sua totalidade, o que – levando em conta o verdadeiro moedor de carne do mainstream – tem lá suas vantagens. Os amores e desamores de faixas como Heartbreaker e Crush são complementados pelo clima do ambient Dinner, cuja letra – talvez um reflexo do fato de ela ter perdido sua antiga casa na Carolina do Norte para o furacão Helene – fala em “existe algo melhor / do que apenas saber que você está segura / sentir o amor ao seu redor / e simplesmente se encaixar?”.
O disco tem lembranças de que a vida pode ser sombria (o lo-fi da faixa-título), mas traz Indigo dizendo que perdeu todos os medos (no synthpop Not afraid), enfiando o dedo na cara de todos os abusadores que conheceu (no pós-punk Heartthrob) e observando as sacanagens do amor com ironia (o soft rock Heartbreaker, que faz lembrar Fleetwood Mac e Rolling Stones). Sua voz continua uma mistura de canto correto com uivo, uma espécie de bittersweet para os novos tempos. Capaz de Indigo chegar bem mais longe dessa vez.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Loma Vista
Lançamento: 25 de julho de 2025.