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Ilha das Bruxas: a “convenção bruxólica” da Rede Manchete
Entre 4 e 28 de março de 1991, foi ao ar na extinta Rede Manchete a minissérie Ilha das bruxas. Com direção de Henrique Martins e Álvaro Fugulin, foi a primeira e única escrita pelo ator Paulo Figueiredo.
Inspirada na obra do pesquisador catarinense Franklin Cascaes (1908-1983), era a história dos mistérios da Ilha de Santa Catarina, envolvendo cultos de bruxas e o sobrenatural. Cascaes utilizou seu talento para registrar o universo legado pelos antigos colonos açorianos através de seus descendentes. Em sua incansável pesquisa, desenvolvida ao longo de 30 anos, preservou a memória da cultura popular da Ilha de Santa Catarina.
Os relatos documentados por Cascaes serviram de base para o roteiro da minissérie, feito por Paulo Figueiredo, com argumento de Bebel Orofino Schaefer. Várias das histórias foram sabiamente costuradas e formaram a trama de Ilha das bruxas. E a novidade é que jogaram a série inteira no YouTube. Olha a playlist aí.
Pedro (Irving São Paulo), um jovem pescador, namora Alice (Daniela Camargo), filha de Giuliano (Eduardo Conde) e Alma (Denise Del Vecchio). A moça é neta de dona Ludovica (Miriam Pires), a dominadora e misteriosa mãe de Giuliano. Mas o jovem Washinghton (Nelson Freitas), filho do truculento agricultor Geraldo Sem Medo (Umberto Magnani) e de Aquilina (Maria Helena Dias), também é apaixonado por Alicinha.
Ludovica
O romance de Pedro e Alicinha é conturbado, pois o rapaz é alvo da cobiça de Selena (Dedina Bernardelli), uma jovem bruxa que sai durante a noite para enfeitiçá-lo e seduzi-lo. Aparentemente vinda do passado, Selena esconde um poderoso segredo, que faz com que ela e Pedro sejam intimamente ligados. O pai do rapaz, o doutor Benzedor (Isaac Bardavid), médico aposentado e curandeiro da região, desconfia que o filho esteja sob “influência bruxólica”.
Domingas
A verdade é que, no dia a dia, as bruxas da remota ilha são mulheres comuns, esposas submissas e insuspeitas. À noite, secretamente, se reúnem para suas convenções bruxólicas e seus rituais diabólicos, regados a sangue de bebês. Ludovica é, na verdade, a líder das bruxas da ilha. É ela quem influencia Aquilina, Domingas (Desireé Vignolli) e Mariana (Ana Cecília Costa), além de várias outras mulheres do lugarejo. Revoltadas com a opressão masculina e com seu papel inferiorizante, elas se reúnem na floresta e celebram seus poderes ocultos e maléficos, enfeitiçando homens e se vingando deles.
Só quem pode desmascarar as bruxas e enfrentá-las de igual para igual são o doutor Benzedor e Constância (Wanda Cosmo), a benquista benzedeira da ilha, uma espécie de “bruxa do bem”. No meio disso, o assassinato de um velho gringo pesquisador, William (Rubens Corrêa) tem que ser solucionado. Ele chegou perto de descobrir o segredo das bruxas e acabou misteriosamente assassinado. Cabe ao frouxo delegado Leandro (Camilo Bevilacqua) a difícil missão de desvendar o crime. O filho de William, David (Leonardo Franco), e Jessica (Julia Lemmertz), a jovem viúva do pesquisador (de quem David era amante) chegam à ilha para tentar esclarecer as circunstâncias misteriosas da morte do gringo.
Nelson Freitas quando era galã de novela
Apesar de sua produção modesta, Ilha das bruxas conseguiu manter um raro clima sombrio de mistério e suspense ao longo de seus capítulos, reminiscente dos antigos filmes de terror. Um feito não muito comum em séries brasileiras de TV na época. Mas a Manchete gostava de ousar em sua teledramaturgia e não poupou temas polêmicos em Ilha das bruxas: cenas fortes, mostrando rituais de magia negra, bebês de verdade tendo seu sangue sugado, pragas das bruxas envolvendo cobras, aranhas e morcegos, cenas picantes de sexo. Tudo isso deixou a trama mais pesada, mas inegavelmente assustadora.
O elenco é ótimo. Entre veteranos e rostos pouco conhecidos, alguns jovens em início de carreira também participaram da minissérie, como André Gonçalves, em seu primeiro papel da TV, e o então novato Nelson Freitas.