Cultura Pop
Ih, tem biografia das Lunachicks
O Brasil (pelo menos o Brasil que lia Bizz e ouvia rádios rock) ouviu falar das Lunachicks quando leu o livro Barulho, de André Barcinski, publicado em 1992. Num dos trechos, Barcinski narrava um encontro com a banda punk feminina, após uma recomendação de ninguém menos que Joey Ramone (“são divertidas”, disse o cantor). Barcinski foi lá, comprou uma camiseta, falou com as meninas e ouviu reclamações delas sobre a qualidade do primeiro disco delas, Babysitters on acid (1990). “Nosso disco é uma merda”, disseram elas, reclamando do trabalho da gravadora Blast First.
Mesmo com as dificuldades, a banda novaiorquina fundada por Theo Kogan, Gina Volpe e Sydney “Squid” Silver, que teve entre seus primeiros fãs Kim Gordon e Thurston Moore, do Sonic Youth, ainda duraria bastante. Seguiu de 1987 a 2000, gravando regularmente e lançando seis álbuns, além de um número considerável de singles e EPs. E agora saiu (lá fora) uma biografia do grupo. Fallopian rhapsody: The story of the Lunachicks foi escrita por Jeanne Fury e carrega em revelações sobre sexo, drogas, rock´n roll, turnês boas e frustradas, e comida (sim, o assunto aparece bastante no livro, segundo uma matéria do site Decibel).
“Começamos a banda no colégio, e o que os alunos do colegial fazem depois da escola? Lanche! Naquela época, nos anos 1980, havia novos lanches e bebidas doces saindo o tempo todo, e havia tantos comerciais memoráveis para eles na TV”, conta a cantora Theo Kogan ao site. A banda vai fazer (se a pandemia deixar, mas já tá marcado) dois shows de retorno em Nova York em novembro, e já anunciam algo bem louco para a apresentação: doces personalizados das Lunachicks.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Muito além do punk: Crass ganha série de relançamentos
“Seriam emojis de cocô de chocolate, balas de espinhas explodindo, meleca de doce e peidos de açúcar”, conta a cantora, que afirmou num papo com a Vogue que as Lunachicks iniciaram carreira porque viviam uma situação sui generis: todas as bandas das quais gostavam estavam acabando. Em alguns dos primeiros shows, o público podia ver quatro (ou cinco, dependendo da formação) garotas dando o sangue no palco, e usando roupas feitas por elas próprias. Theo chegou a costurar um velho roupão de hospital para usar como roupa de palco, e complementou a indumentária com sangue falso (que espirrou na plateia).
A decepção da banda com a Blast First acabou causando a saída das Lunachicks do selo, e sua ida para um selo chamado Safe House, que tinha fama de grande “descobridor” de artistas que acabariam contratados por gravadoras maiores. Lá gravaram o segundo disco, Binge & purge, em cuja capa (adivinhe) elas aparecem cercadas de bolos e doces, além de uma garrafa de Diet Coke com as letras “t”, “c” e “e” apagadas (ficou escrito “die ok”). O álbum ganhou algumas resenhas negativas, mas tinha momentos bem legais.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Old Skull: punk para crianças nos anos 1980
Na época do disco, a baterista Becky Wreck ficou muito mais famosa do que a banda por causa de sua participação no reality show Howard Stern’s Lesbian Dating Game (sim, Howard apresentou esse programa na TV). Becki foi lá pensando em conseguir mais fama para a banda, e o apresentador até citou o nome “Lunachicks”, mas parou nisso. Logo depois, Becki deixou o grupo e foi substituída por Kate Schellenbach, ex-batera do Luscious Jackson e dos Beastie Boys (no comecinho da banda, quando os BB eram um grupo punk).
Na sequência, as Lunachicks conseguiram um terreno firme no selo Go Kart Records, de Nova York, e gravaram lá até 1999 – o último disco, Luxury problem, saiu nesse ano. Para divulgá-lo, a banda chegou a se juntar à Vans Warped Tour, patrocinada pela empresa de calçados, numa configuração de shows que incluía também Donnas e a cantora canadense Bif Naked.
>>> Naoko Yamano (Shonen Knife) fala com o POP FANTASMA sobre Nirvana, Ramones, videogames e pandemia
As Lunachicks permaneceram envolvidas em projetos paralelos e outros trabalhos durante e depois do fim da banda. Becky tocou em bandas como Blare Bitch Project. A baixista Sydney Silver virou tatuadora, dona de restaurante de comida orgânica e coach de negócios (!). A guitarrista Gina Volpe passou a fazer um trabalho solo experimental. A cantora Theo Kogan, por sua vez, passou a fazer também trabalhos como modelo, maquiadora e atriz, e montou uma empresa de brilhos labiais veganos.
Ah, sim: a formação da banda que volta e meia faz shows inclui o trio original, mais a baterista Chip English, que foi o nome mais duradouro no instrumento durante a trajetória do grupo (ficou lá de 1993 a 1999).