Cultura Pop
Ian McCulloch, Johnny Marr e o caso do disco que sumiu
Em 1993, o rock britânico ficou em polvorosa. Tudo porque foi anunciada uma parceria entre Ian McCulloch (então um ex-Echo & The Bunnymen) e Johnny Marr (até hoje um ex-Smiths). Vivendo uma época bizarra de transição, em que o Blur ainda era mais “rock alternativo” do que apenas brit pop, e o Oasis nem sequer havia gravado seu primeiro disco, o som da Inglaterra precisava bastante dessa novidade – que apareceu inclusive nas páginas do tabloide The Sun, um dos primeiros a dar a boa nova. A união entre os dois geraria um disco, que se chamaria Touch down.
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Ian e Marr precisavam de algumas mudanças, nas carreiras e nas vidas pessoais. O ex-Smiths tinha se dado um pouco melhor: mesmo não alcançando a popularidade de sua ex-banda, estava dividindo seu tempo entre trabalhos de estúdio e o Electronic, dupla que montara com Bernard Sumner, do New Order. Ian tinha tentado se lançar solo, sem muito sucesso, e estava brigado com o antigo amigo e parceiro Will Sergeant, que tocava uma nova versão do Echo & The Bunnymen com outro vocalista (e igualmente sem sucesso).
Pelo menos em matéria de revista teve Ian McCulloch (Echo) e Morrissey (Smiths)
Os dois (Johnny e Ian) já se conheciam de um encontro no Top of the pops, mas havia sido tudo rápido. “Não lembro de The Smiths estar no mesmo programa, porque não notei ninguém além dos Bunnymen. Aparentemente, ele veio até mim no corredor e disse: ‘Disco fantástico’. E eu apenas disse: ‘Boa escolha de palavras’ e fui embora”, contou Ian aqui, lembrando que se bobear, nem havia enxergado o músico direito (Ian enxerga mal por causa da miopia).
Um novo encontro se deu logo após o último show do cantor com o Echo, quando Johnny já não tinha mais banda. Após algumas conversas, deu liga, tanto que decidiram compor juntos e a Warner entrou no meio. Só que a gravadora não achou que deu tanta liga assim: o executivo Rob Dickens ouviu o resultado, acho que faltava algo e sugeriu a Ian que convidasse Sergeant – com quem ele não falava desde o funeral do batera do Echo, Pete De Freitas, em 1988. “Parecia que todos estavam ansiosos pelo lançamento do álbum. Todos, menos McCulloch e Marr”, afirmou certa vez o Seattle Weekly.
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Acabou que o tempo foi passando e um amigo em comum resolveu dar um empurrão para Ian e Will voltaram a se falar. O disco com Marr foi ficando em segundo plano e… as fitas master do álbum simplesmente sumiram de uma van! Bom, pelo menos “teriam sumido”, já que muita gente desconfia de que isso não é verdade e os músicos simplesmente desistiram do disco.
Quando é perguntado, Ian jura que foi isso mesmo que aconteceu. Seja como for, o reencontro de Ian McCullouch e Will Sergeant deu mais liga ainda, tanto que a dupla montou o Electrafixion com mais dois músicos e soltou o (bacana) disco Burned, em 1995. Que por sinal tinha duas das parcerias com Marr, Lowdown e Too far gone (credtadas também a Sergeant).
Logo depois o Echo voltaria e Marr ficaria fazendo seus próprios projetos, sem Ian. No entanto, outra música da dupla reaparecia em condições inimagináveis: (How does it feel to be) on top of the world? viraria tema da Inglaterra na Copa de 1998, nas vozes das Spice Girls e de mais uma turma (incluindo aí o próprio Ian McCulloch).