Cultura Pop
A psicodelia punk japonesa do High Rise: descubra!
Uma surpresa para quem curte descobrir bandas estranhas e barulhentas. O selo Black Editions acaba de recolocar nas lojas (lá fora) o segundo disco da banda japonesa High Rise. High Rise II saiu originalmente em 1986, dois anos depois da estreia Psychedelic Speed Freaks, gravada ao vivo. Wipe out, uma das melhores músicas, você conhece abaixo.
O High Rise foi formado a maior parte do tempo pelo herói da guitarra ruidosa Munehiro Narita e pelo baixista Asahito Nanjo – um dos reis do uso da distorção no baixo, e músico extremamente ativo no underground japonês. Na época de II, completava o grupo o baterista Yuro Ujiie. O som do HR era uma massa bruta, com distorções cobrindo guitarra, baixo e vocais. E um leque de influências que incluíam hard rock (algumas músicas lembravam o Grand Funk do começo, só que mais radical), pós e pré-punk, jazz e a psicodelia lascada de bandas como The Fugs. Olha só os treze assustadores minutos de Pop sicle.
O site da gravadora Black Editions resgatou uma entrevista de Asahito Nanjo dada nos anos 1990 em que ele lembrou de seu começo na música, em meados dos anos 1970, quando fazia punk de três acordes. Só que em 1978, Brian Eno juntou as bandas novaiorquinas The Contortions, Teenage Jesus And The Jerks, Mars e DNA – conhecidas pelo som barulhento e experimental, e pela atitude de confronto com o próprio punk – no corrosivo disco No New York, lançado pelo selo Antilles. E Asahito ouviu o disco.
O álbum mudou a vida de Nanjo, que imediatamente passou a fazer experimentações musicais tendo punk, jazz e psicodelia como base. Surgiram então o Red Alert, importante banda do under japonês, e o Red, que fazia performances e som experimental.
Achar material das duas bandas no YouTube não é nada fácil – até porque já existem grupos com os mesmos nomes. Em compensação, jogaram no YouTube um show do High Rise em 1987. Por aí dá para sentir o peso de uma apresentação deles.
E isso é o grupo um pouco antes, em 1986.
O nome inicial do High Rise era justamente o do primeiro álbum ao vivo deles, Psychedelic Speed Freaks. Nanjo diz que a escolha por esse nome era que ele fazia o grupo parecer menos “sombrio e excludente”. O lançador do PSF, Hideo Ikeezumi – produtor-lenda do rock psicodélico japonês – convenceu o trio a adotar outro nome. E roubou o título, passando a chamar seu selo de PSF Records. O PSF foi o responsável pelo lançamento de uma das bandas mais malucas do Japão, Acid Mothers Temple. No ano passado, eles fizeram um show em São Paulo.
Um detalhe curioso sobre o High Rise é que, apesar de fazer som psicodélico e punk nas alturas, o trio era radicalmente contra o uso de drogas. Não apenas isso: Nanjo diz que a ideia da banda era salvar os amigos viciados em narcóticos (!). “Muitos grandes músicos morreram de overdose nos anos 1960 e 1970, ou enlouqueceram antes de se tornarem famosos. Queríamos fazer uma declaração antidrogas, então escolhemos gírias de drogas americanas e britânicas para todos os nomes de músicas”, afirmou o baixista.
Nos anos 1990, formações japonesas como o Shonen Knife começaram a fazer turnês conjuntas com bandas ocidentais – e a tentar aproximação com a onda grunge. Nanjo, na época, abriu um show do Mudhoney em Tóquio. Só que as opiniões dele sobre o grupo e sobre o rock de Seattle são bastante desfavoráveis. “O que eles fazem é lixo, eu odeio. Eu prefiro abrir para Madonna que Mudhoney. Todo o grunge é inútil, não tem nenhum pensamento por trás disso. Eles apenas copiam músicas de garagem dos anos 1960, mas não há conexão com suas vidas”, disse.
Esse comportamento underground ao extremo não é exclusividade de Nanjo. Munehiro Narita, o guitarrista, deu uma entrevista nos anos 1990 em que mostrou cagar para rótulos como punk e psicodelia. Citou influências de músicos de jazz e disse que nunca nem tinha escutado Jimi Hendrix com a devida atenção (!). Olha aí o guitarrista ao vivo com sua banda no ano passado, num set com músicas do High Rise.
O material em High Rise II, no relançamento, teve remasterização feita pelo baixista Nanjo, e ganhou o acréscimo de dois bônus. Não se tem notícias, até o momento, de um retorno da banda. Em 2004, Nanjo pôs nas lojas um disco solo gravado em 1993, Greed, que soa como uma evolução do High Rise, com duas longuíssimas faixas, uma de cada lado. Para o disco, trocou o baixo pela guitarra. Olha aí.