Cultura Pop
Imagens de um clube gótico na Inglaterra em 1984
Tá aí a diversão garantida do seu Goth Day (sim, hoje, 22 de maio, é o dia dos góticos). Só que você precisa de duas horas, inglês pelo menos aproveitável e um tantinho de paciência para desfrutar do presente: um cara subiu para o YouTube um vídeo de duas horas, sem legendas, mostrando uma noite de diversão no Xclusiv. É um antigo clube gótico de Batley, cidade de Yorkshire, Inglaterra. Aliás, o vídeo exibe um dia inteiro de diversão, trabalho, enrolação, pessoas que em nada se parecem com qualquer coisa de gótico misturadas a reis e rainhas do submundo… e a noitada, que é o principal.
Até o sétimo minuto de “The height of goth” (nomezinho do filme), o espectador mais radical passa maus bocados: ouve uma releitura easy listening de “Woman”, de John Lennon, assiste a entrevistas com os donos do estabelecimento (que de góticos nada têm) e descobre que o DJ da casa toca de Echo & The Bunnymen e Cabaret Voltaire a… Glenn Miller. Lá pelo décimo minuto, ao som de “Blue monday”, do New Order, o recepcionista da boate – um cara com visual almofadinha – recebe a primeira leva de pagantes, quase todos com indumentária punk ou gótica.
Dentre eles, uma moça loura com cabelo raspado a la Grace Jones, um sósia do Sid Vicious e um clone da Siouxsie. Daí para a frente, imagens da pista de dança sem muitos cortes e uma trilha sonora tão boa que, vá lá, não fosse pela má qualidade do som daria vontade de deixar o vídeo correr até o fim. Por sinal, um brasileiro chamado Silvio Nobrega, que diz ter estado lá e ter aparecido no filme, fez uma playlist das músicas que aparecem no vídeo. Olha aí (sim, eles tocavam Glenn Miller, Monkees, Doors…).
Na lista falta justamente “Blue monday”
A história por trás de “The height of goth” é bem melhor que o próprio filme. O cara que pôs o vídeo no YouTube tinha 18 anos em 1984 e tocava numa banda influenciada por Bauhaus, Killing Joke e outros nomões – e, além de ser frequentador do Xclusiv, também (segundo o próprio) aparece em “The height…” com os amigos. Ele conta tudo neste blog. Tambem segundo ele, a ideia de fazer um vídeo-reportagem do local foi dos próprios donos da casa, Ann e Pete Swallow (os tais que dão entrevista logo no começo). O VHS original era vendido a amigos e frequentadores por duas libras e devem ter circulado cerca de 50 cópias. Nosso amigo-que-subiu-o-vídeo-no-YouTube diz ter perdido a chance de adquirir uma delas na época, porque não tinha dinheiro (“eu tinha outras prioridades”).
“Estou no filme dançando com o resto da minha banda, minha irmã Nancy e as minhas duas paixões da adolescência, Karen e Michelle. Se não me falha a memória, isso foi filmado numa noite de domingo, que ridiculamente está bem luminosa (…). Com o passar dos anos, essas fitas foram desgravadas, quebradas ou perdidas, ou jogadas fora. Todo mundo esqueceu. Trinta anos depos, estava eu vivendo em Londres e por acaso achamos um dos cassettes. Estava jogado no lixo. Meu irmão fez mágica e o resgatou para o formato digital, e me deu de presente”.