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Gerson King Combo: o primeiro disco tá de volta em vinil

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Produtor do rei do soul brasileiro Gerson King Combo (1943-2020), Ronaldo Pereira realizou um sonho essa semana. O álbum Gerson King Combo, que traz o cantor soltando a voz em hinos como Mandamentos black, God save the king, Hereditariedade (“minha mãe é negra/graças a deus/o meu pai é um black também, graças a deus”), ganhou na quinta (18) seu primeiro relançamento em vinil desde que foi distribuído às lojas pela primeira vez. Sai pela Universal, empresa que após anos de fusões e mudanças no mercado, responde pelo acervo da Phonogram, que lançou o álbum originalmente, há quase 45 anos. E Ronaldo esteve diretamente ligado ao retorno do disco em LP.

“Tô na batalha a muito tempo pra esse disco ser relançado. E não só eu, o Zé Octavio Sebedelhe (produtor executivo da Banda Black Rio) e também outros amigos, como Leo Rivera (diretor do selo Astronauta, ligado à Universal) e o filho do King, Gerson Filho, todos ajudaram a convencer a Universal Music e batalharam pra isso acontecer”, alegra-se. A estreia de Gerson já havia tido um relançamento em CD pela mesma Universal, na antiga série Samba & Soul – com títulos selecionados por Charles Gavin. O álbum já pode ser ouvido nas plataformas. “Já vi CD pirata do Gerson, mas vinil ainda não vi”, conta Ronaldo, que vive deparando com gente vendendo o LP original na internet. “Os preços variam muito, o mais caro que vi foi 600 reais”, diz.

Gerson King Combo, o disco, teve produção do golden boy Ronaldo Corrêa e ganhou participações importantes tanto na gravação quanto nos bastidores. Acompanhando o cantor, a banda União Black, formada por músicos da Zona Norte carioca – por sinal na fita K7 do álbum, o nome do grupo aparecia destacado na capa. Pedrinho da Luz foi o produtor executivo e Roberto Menescal foi o responsável pela carreira solo de Gerson, que já havia gravado um disco na Polydor, Brazilian soul, acompanhado pela Turma do Soul, repleto de clássicos da MPB com ritmo funkeado. Em entrevistas, Gerson costumava falar que muito do discurso antirracista e afirmativo de suas músicas precisou ser mudado para que não houvessem problemas com a censura. “Eu dizia: ‘Chega de ismos!’ e o Menescal dizia que podia trazer algum tipo de problema”, contou à Veja certa vez.

Ronaldo recorda que Gerson sonhava bastante com o relançamento do disco em LP, bem como de seus outros álbuns e compactos. “Tentei diversas vezes saber mais sobre todo o processo de gravação e produção desse disco, mas ele me falava pouco”, conta o amigo. Gerson King Combo, o disco, levou a mensagem do cantor até seu público e colocou Gerson no rádio e nos programas de TV. Mas não garantiu o respeito da crítica musical, que caía de pau no movimento Black Rio e na união de samba e funk. Em 18 de novembro de 1977, por exemplo, o Jornal do Brasil publicava uma nota de Maria Helena Dutra lembrando que o Parque Lage, na Zona Sul carioca, apresentaria uma semana dedicada à cultura negra, com Gilberto Gil, Zezé Motta (grafada sem um dos “tt”), Jards Macalé (grafado apenas com o sobrenome) e Combo. “Desculpem, mas esse último, realmente, é dose”, resmungava a colunista.

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“A crítica musical da época era muito radical com artistas que não seguissem a linha que eles consideravam música brasileira. Misturar samba com jazz podia, mas soul music nacional não podia, era coisa de gente americanizada. E as letras então, tinham que seguir o padrão da MPB. Que chato!”, queixa-se Ronaldo, dizendo que Gerson nunca nem ligou para críticas.

“Ele ligava para seu público, esse sim ele sempre queria saber o que achavam, se gostaram das músicas e tal. Esse disco foi lançado no auge do Movimento Black Rio e Gerson foi o artista que mais se apresentou nos bailes de soul do subúrbio carioca. O próprio Jornal do Brasil publicou em 1976 a clássica matéria O orgulho (importado) de ser negro no Brasil, que embora tenha sido a maior divulgação que o Black Rio já teve, foi escrita pela sambista Lena Frias e não foi nada positiva para o movimento na época. O título já dizia tudo!”

Com o disco à disposição, algumas festividades e comemorações já estão agendadas para divulgar o relançamento. Neste sábado (20), na Concha Acústica de Niterói, a Banda Black Rio se apresenta com participação de Carlos Dafé (o melhor amigo musical do Rei) durante o Festival Viva Zumbi, e vai rolar sorteio de LPs. No domingo (21), no Centro de Convenções do Anhembi (SP), a Banda Black Rio e Carlos Dafé fazem o baile da 1ª Expo Internacional do Mês da Consciência Negra. O LP vai estar à venda no stand da Vinil SP.

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