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Gary Lachman: o lado ocultista do ex-baixista do Blondie
Diz Vidas paralelas, biografia do Blondie escrita por Dick Porter e Kris Needs, que há uma controvérsia sobre a saída do baixista Gary Lachman, ou Gary Valentine, como era conhecido em meados dos anos 1970. Ele se sentia sem espaço criativo no grupo, após uma canção sua, Scenery, ser gravada para o primeiro disco e deixada de lado – saiu numa edição bônus de Plastic letters, o segundo disco, de 1978. A banda achava que ele não estava 100% comprometido e o empresário Peter Leeds, ciente disso, acabou mandando o músico embora. Gary, por sua vez, disse em entrevistas que saiu da banda porque queria ter seu próprio trabalho.
Seja como for, é dessa maneira que o autor de sucessos do grupo como X-offender e (I’m always touched by your) Presence, dear é mais conhecido hoje: como estudioso de ocultismo e autor de livros sobre o assunto. Olha aí uma entrevista de 44 minutos com Gary sobre os trabalhos dele, sobre as práticas de Emanuel Swedenborg (espiritualista e inventor sueco que fez descobertas nas ciências, na filosofia e na religião) e, claro, sobre seu período no Blondie.
O amor de Lachman pelo ocultismo começou em 1975, na mesma época em que ele estava se iniciando nas quatro cordas do Blondie. E veio de dentro da própria banda, já que Stein estudava sobre tarô, Aleister Crowley e outros assuntos.
“Nunca fui interessado nesse tipo de assunto e a única conexão que eu fazia era com filmes de terror e livros de H.P. Lovecraft, ou autores do tipo. Tinha toda uma herança cultural desse conhecimento que vinha dos anos 1960, e li muito sobre o assunto”, conta Gary no papo acima. Ele iniciou seus estudos com O oculto, de Colin Wilson. E, garante, o assunto vazou para as músicas do Blondie antes que ele pudesse deixar o grupo. “(I’m always touched by your) Presence, dear é a única música de sucesso sobre telepatia, acho”, contou.
Gary é o ultimo da direita, embaixo – no começo do Blondie
Em 2009, o The Quietus publicou um longo depoimento de Lachman sobre suas experiências com ocultismo. Ele diz que já praticou rituais imaginando que aconteceriam orgias sexuais e experiências animais com drogas (“nada aconteceu”, desfaz as ilusões dos mais animadinhos), Diz também que nunca conjurou espíritos, mas já experimentou estados alterados de consciência (“imagine-se em uma sala com incenso queimando e você está cantando sílabas sem sentido, dançando em um círculo – depois de um tempo, algo vai acontecer”). Também revela que foi deixando os ensinamentos de Crowley com o tempo.
Lachman confirma que muitos músicos já se interessaram pelo tema – era uma moda, nos anos 1960, para vários deles. Só que quando ele se tornou artista, no auge do punk, os interesses hippies já tinham sido deixado de lado – e ele não arrumava muitas pessoas para conversar sobre ocultismo. Quem andou se aproximando dele foi ninguém menos que Kirk Hammett, guitarrista do Metallica. O músico convidou o ex-Blondie para jantar e bater um papo. Acabou até fazendo o texto de contracapa de um de seus livros, A dark muse. Olha o textinho aí.
Mesmo com o trabalho como escritor, a música não parou para ele. Gary chegou a retornar ao Blondie numa das reuniões da banda e também fez lançamentos solo, além de montar outros grupos. Há bem pouco tempo, saiu uma coletânea de seus trabalhos como músico, Tomorrow belongs to you. Olha aí a faixa-título, gravada em 1978 num single da Beat Records.