Cultura Pop
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?
Bom, existiu durante alguns anos a afirmativa de que pelo menos um jornalista-lenda do Rio de Janeiro seria o autor de boa parte dos textos. Seja como for, um ex-jornalista dos tempos áureos da revista, Alexandre Raposo, escreveu um texto para um blog afirmando que sim, “todas as cartas publicadas eram verdadeiras, escritas pelos leitores, e nunca precisamos inventar nada”.
Ok, eu introduzi o assunto meio atabalhoadamente, então vamos lá: entre os anos 1970 e 1990, quando ainda não havia internet, nem Facebook, nem Tinder, existia uma revista chamada Ele Ela, publicada pela Bloch, que tinha uma seção chamada Fórum. Os leitores da revista em tese, mandavam cartas para lá contando suas fantasias sexuais realizadas – e algumas leitoras também aproveitava para contar as suas. Não dava para exigir alto nível de uma seção que descrevia transas de leitores, mas boa parte dos textos era tão bem escrita que dava para desconfiar. Alexandre explica no texto que isso tinha uma explicação, assim como expressões malucas como “grutinha”, que foram surgindo com o tempo (e dispensam explicações).
“Nossa atitude foi sempre a mesma: publicávamos a carta, tal qual era enviada, em nossa seção Cartas, na base do “se colar, colou”. O resultado disso foi que as cartas de Fórum duplicaram em volume, pois, não bastando o relato original, nossos leitores não se privavam do prazer de contar as experiências sexuais resultantes de encontros travados por nosso intermédio. E Fórum partiu para a metalinguagem — o que não tem nada a ver com sexo oral.
Podemos traçar toda a trajetória de Forum através dos tempos apenas através das mudanças estilísticas e de linguagem pelas quais passaram os depoimentos ao longo dos tempos. A princípio, os relatos apenas sugeriam o ato sexual, fixando-se mais na situação ou na descrição de ambiente e personagens. Termos como “partes pudendas” eram comuns nessa época.
Gradativamente, no entanto, a linguagem foi se sofisticando, tornando-se mais ousada e começando a procurar soluções mais originais. E chegou a época das ‘inhas’. Tudo era ‘inha’: era grutinha, xoxotinha, bundinha… os leitores caprichavam nos diminutivos, certamente procurando amenizar a crueza de seus relatos. Por isso, muita gente começou a achar que o Fórum era escrito pela mesma pessoa.
É bom lembrar que escrever a respeito de experiências íntimas é tarefa complicada. Descrever sensações, tatos, cheiros… enfim, narrar o sexo de forma literária é um desafio instigante. Por isso, toda vez que algum leitor conseguia uma fórmula nova, imediatamente esta fórmula era adotada pelos outros correspondentes. Daí a ‘linguagem pasteurizada’ de que se queixavam nossos críticos incrédulos”.
O Fórum tinha começado como uma seção de cartas e críticas como outra qualquer e acabou tendo sua cara dada pelos leitores. O nome da seção acabou entrando de maneira tão forte para o imaginário de homens e mulheres que a Casseta Popular chegou a inventar uma seção-paródia – que durou só um número da publicação – chamada Fódum.
Segundo Alexandre, o Fórum rendeu histórias bem engraçadas, como a dos publicitários que foram à redação – que ficava no bairro carioca da Glória – apenas para conferir se aquilo era verdade ou se era inventado. Também rendeu cartas inacreditáveis, como a da chiclêta (está no texto, vá no link que isso não dá pra reproduzir aqui).
“Ao longo desses anos recebemos de tudo. Desde pelos pubianos caprichosamente aparados e enviados junto com as cartas (‘para provar que não estou mentindo’), até relatos eróticos que poderiam ser classificados como boa literatura. E, quando não insistiam em falar no tamanho descomunal de seus membros avantajados, nossos leitores conseguiam criar peças cheias de humor e picardia, como a premiada ‘Adão, o Bananeiro’, uma das cartas mais sacanas e mais engraçadas que recebemos”.