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Florais da Terra Quente: som, poesia e trabalho coletivo no Piauí
A banda piauiense Florais da Terra Quente une MPB, indie rock e poesia. E foi criada a partir da união de vários trabalhos individuais de compositores e cantores. Marcelo Queiroz Moura Fé Santos, Yngla Hillary Silva, Juscelino Roberto Alves Filho (os três violão e voz), Maria Clara Leite Macêdo (voz), Rafael Marques da Silva (baixo), João Baptista Mereu Filho (violino), Artur Caldas Meneses Pires Ferreira (guitarra e voz) e Dominic Ferreira (bateria) faziam seus próprios trabalhos e, ao se descobrirem um grupo, em 2018, começaram a cruzar diferentes vertentes musicais.
O Florais lançou um álbum epônimo em 2018, destacando músicas como A semana e O que sobrar. Além de A marte, que Yngla define como uma canção que tem um significado enorme para ela e “o meu legado de amor até o momento”. Recentemente, rolaram mais dois lançamentos, o single Suco de umbu, e o EP gravado ao vivo no festival Marthe Sessions com A marte, O que sobrar e a inédita Correntes, composta pelo cantautor piauiense Tio (Fabrício Santos) – um artista muito importante para o grupo.
Batemos um papo com o Florais abaixo. Confira e aproveite para conhecer o som (foto: Renata Fortes/Divulgação).
Como foi juntar todos os compositores e cantores no grupo e organizar tudo?
Juscelino: O processo de formação da banda se deu de forma bem orgânica, até como um mecanismo de “sobrevivência” pros compositores. Ainda é muito difícil para artistas independentes angariar recursos para a gravação das próprias músicas, então pensamos que agrupar conhecidos e amigos de amigos seria uma boa forma de aumentar nossa plataforma. É até engraçado lembrar que esse era o plano, já que logo nos primeiros meses nossa conexão se tornou tão grande que nos apaixonamos uns pelos outros e viramos essa super “bandona”. Inclusive, hoje eu sinto que o que nos diferencia musicalmente é justamente essa ausência de “ego” estilístico, que acaba gerando uma sonoridade super comunitária e afetiva.
Falem um pouco da época em que a banda foi formada. Rolaram aquelas coisas que geralmente rolam na formação de coletivos, de integrantes se dividindo entre vários instrumentos, ou músicas feitas por três, quatro integrantes?
Juscelino: Sim! Inclusive, somente agora estamos conseguindo cimentar melhor esses papéis em nossos shows, e evitar essas trocas de instrumentos no palco. Já no estúdio, e por trás dos panos, a maioria dos integrantes são multi-instrumentistas, o que torna inevitável essa “coletivização” de funções. As composições da banda foram seguindo a mesma lógica: No início, nossa escrita era super individual, tanto que a maioria das músicas do primeiro álbum foram feitas antes da criação do grupo. Conforme fomos nos aproximando e desenvolvendo afinidades, porém, nossas composições passaram a ser cada vez mais coletivas, e essa tendência só tende a crescer nos lançamentos vindouros!
A semana é a mais ouvida de vocês no Spotify. É o maior sucesso também de vocês nos shows?
Marcelo: Como ainda não realizamos ainda algum tipo de turnê regional ou nacional, nossos shows em grande maioria foram para o público teresinense, então a dinâmica acaba sendo diferente dos dados das plataformas. O nosso público em teresina conhece nossas músicas mais recentes e se apegam facilmente a elas, assim como “a semana” em algum momento foi bem reproduzida. Então diria que músicas como O que sobrar acabam tendo uma aclamação maior do público nos nossos shows.
A gravação para o Marthe Sessions foi feita num círculo, com todos os integrantes se olhando enquanto tocavam. É uma configuração que vocês costumam usar em gravações ou foi a primeira vez?
Artur: Foi a primeira vez que gravamos assim, e inclusive foi a primeira vez que gravamos ao vivo. A experiência foi muito boa! Lembro até que estávamos um pouco tensos, por ser uma gravação importante e por não termos experiência anterior, mas o círculo nos deu uma segurança e uma intimidade incrível. Além disso, os retornos estavam muito melhores que o normal! Foi sem dúvida nossa melhor experiência com sonorização até agora. Só temos a agradecer, porque a ideia do meio círculo veio da produção do festival.
Quem é o Tio, de quem vocês gravaram correntes?
Dominic: Fabrício Santos é o multiartista por trás do Tio, vulgo menino azul e também meu melhor amigo! Sou suspeito pra falar dele pois o admiro em todas suas facetas. Além de cantor e compositor, ele também é poeta, produtor cultural e um dos fundadores do selo cultural menorque, juntamente comigo e nossa menina Karine Lima. Chega a ser difícil resumir quem é esse cara porque ele é GIGANTE e atua no cenário cultural piauiense desde 2014.
Como músico, posso citar Tio, que canta suas verdades de uma forma intensa e grita peito a fora como é respirar arte, e que passou de compor e cantar baixinho dentro do quarto pra encher de lágrimas os olhos atentos nos teatros e nas ruas. Esse “Tio” sempre me conta como foi compor Correntes, canção que, em suas palavras, “fala de como as vezes a gente ama pessoas e as conhece de uma maneira que essa vida não dá conta de explicar, que parece que o amor ultrapassa esse plano… como se eu me despedisse de alguém pra reencontrar numa próxima vida e num próximo plano”. Pra mim, só resta achar bonito demais tamanho sentimento.