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Faixa a faixa: Fernando Parré, “Forja”
Nascido e criado no interior de São Paulo, Fernando Parré e soma várias atividades na arte: é músico, produtor, poeta, fotógrafo, filmmaker e pintor. O nome do disco vem do nome do seu estúdio. O primeiro disco, Gerúndio, saiu no ano passado, e o novo EP, Forja, sai agora, buscando unir o lado visual ao musical. E algo que já surge na capa, com as imagens correspondentes às quatro faixas.
“As canções do EP começaram a ser compostas o começo de 2020, num cenário de encarar a pandemia e pressentir o muito que ainda havia por vir. Foram músicas que se apresentaram após o lançamento do álbum Gerúndio”, explica Fernando, que compôs, tocou todos os instrumentos e cuidou da produção e da mixagem.
Fernando mandou um faixa a faixa do disco para o POP FANTASMA. Leia ouvindo.
“PRANTO, de ser pequeno perto da história, perto do necessário para mudar. Perto do tempo: passagem; vai, vem. De ver que as crises são plano em ação. Da morte que, agridoce, finaliza e recomeça. Da esperança enquanto verbo.
A primeira faixa. Abre o álbum dentro da narrativa de ser e estar no mundo contemporâneo. Entender o que há por meio da História. Beat eletrônico dançando entre o lo-fi e o darkwave. Sintetizadores, cordas e voz procuram criar o ambiente para uma música que fala das crises, do tempo, da paciência histórica necessária para (r)existir. O desafio de viver hoje com o muito que o passado nos traz com necessidade de mudança. De um choro que é para fortalecer. Musicalmente foi composta procurando explorar texturas minimalistas diversas, que compõem a base aguda do beat. Sintetizadores cujos timbres podem ser lamentos, constatações, respiros. Para se entender e transformar, é necessário olhar. Para olhar é necessário coragem.
FESTA, dos movimentos opostos e complementares: o lento, gradual, pouco a pouco, e o rápido, súbito, de uma só vez. Do celebrar e insistir, se alimentar na força dos encontros – e desencontros. Do olhar a partir de um ponto e, com tantos outros pontos juntos, abranger a perspectiva conjunta, transformadora.
A segunda faixa do álbum. Das forças que moldam paisagens e pessoas. Baixo de síntese subtrativa, o som se inspira na cumbia, dentro de uma estética eletrorgânica, fundindo elementos do dubstep e trap ao gênero latino. Festa, dos encontros, síntese do poder que temos enquanto indivíduo. Da necessidade de processos lentos, micro-geopolíticos, que como erosão, moldam o relevo. E de processos rápidos macro-geopolíticos, que feito explosão, repentinamente criam mudanças drásticas e bruscas. Musicalmente, fundir um gênero tradicional da música latino-americana com gêneros e elementos de música eletrônica contemporânea. Festa, seriedade fundamental aos processos gradativos ou repentinos.
LUTA, de um dia após o outro, do desejo dos bons ventos, que geram movimento e arejam as ideias e sentimentos. Da ponte que somos entre chão e céu. Do cultivo que o tempo demanda. Das mãos, interface entre ser e estar. Do poder imenso que reside em cada pessoa.
A terceira faixa. Do papel de cada indivíduo e da sociedade como todo em agir. Do cotidiano às disputas em grandes escalas, da descolonização dos corpos, da paisagem, das instituições, da existência. Da forja que somos nós. Somos pranto, festa, luta, e também lar. Somos, precisamos ser, existir e resistir, dado o cenário no planeta. Guitarras, coro de vozes, letra e pianos elétricos criam a atmosfera que transita entre o rock, o jazz e afrojazz, o groove e EDM. Se voltar para o presente, cotidiano, na força que carregamos, nossas e dos antepassados. A potência do ser humano em sociedade reside em cada pessoa. A humanidade é a gente, o indivíduo. Musicalmente, uma atmosfera que se vale de guitarras com timbre limpo, aberto, pianos elétricos vintage e não menos momentos de intensidade, solos de guitarra com timbre distorcido e baixos que se inspiram no peso do Dubstep.
LAR, dos lugares espaciais e subjetivos que habitamos, onde confortamos e acolhemos a nós mesmos. Das raízes, nutrição e sustento. Do lar partimos, ao lar chegamos, em lar estamos.
A última faixa, única sem letras. Do lugar onde nos fortalecemos, onde cuidamos das feridas e preparamos as ferramentas de luta. Onde celebramos, vivemos, de onde ningúem chega nem nos tira. Do Lar em si e no mundo. Djembes, conga, chocalhos e alfaias invocam a acestralidade por meio da percussão. O chão que forma o Lar ao longo das tantas gerações que nos antecederam. Explorando o Maracatu, a Ciranda e o House, a fusão entre ritmos tradicionais brasileiros e música eletrônica contemporânea retrata o paradigma atual. As raízes, tradições, e a vasta quantidade de informação, de novas perspectivas, de inovações, negações e reafirmações: a todo momento conflito e síntese, no desenrolar da realidade. O futuro, forjado no presente, que se faz em cada pessoa e nas sociedades como todo”.