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Entrevista: Bobs (Active Minds) fala de punk rock, independência e política

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O Active Minds é uma lendária banda inglesa de punk rock fundada em 1986 na cidade de Scaraborough, mesmo lugar que deu ao mundo o ator Ben Kingsley. Com uma formação bastante incomum, composta pelos irmãos Bobs (vocal e guitarra) e Set (bateria), esse dueto lançou por conta própria dezenas de albuns e EPs no melhor esquema “Faça Você Mesmo”, bem como excursionou pelo mundo inteiro, inclusive pelo Brasil em 2017. O Pop Fantasma contactou o simpático e verborrágico vocalista Bobs e o resultado disso foi essa entrevista onde ele fala (muito) sobre a cena punk mundial, política, serviços de streaming e muito mais. Divirta-se!

Primeiramente gostaria de dizer que estou muito feliz em entrevistá-lo. sou um grande fã do Active Minds! Gostaria que você fizesse uma breve introdução sobre vocês, quando a banda começou, quem são suas maiores influências e tudo mais para quem ainda não te conhece.

Começamos como Active Minds em 1º de janeiro de 1986 e formamos a partir das cinzas de outra banda chamada S.A.S. Eu era o cantor do S.A.S. (e mais tarde, virei segundo guitarrista também) e lançamos o EP Suave and sophisticated em 1985, mas depois que esse EP foi lançado a banda começou a se desintegrar.

Perdemos nosso baterista Vince e o guitarrista Tony, então meu irmão Set entrou na bateria e outro cara chamado Stu entrou para tocar guitarra. No entanto, a nova formação não estava funcionando tão bem quanto a antiga – Set, em particular, lutou para substituir Vince, já que Vince era o único músico devidamente treinado na banda, enquanto Set estava apenas começando a aprender. Então, embora tivéssemos lançado um EP e as pessoas começassem a nos perguntar sobre fazer shows, não estávamos tocando bem o suficiente (na minha opinião) para atingir os padrões que tínhamos antes.

Na véspera de Ano Novo de 1985, Set e eu discutimos a criação de apenas dois integrantes, reduzindo a música ao básico. Essa formação também nos permitiria focar no que queríamos dizer liricamente, de maneiras que não sentíamos ser possível com os outros caras da banda. Então, no dia seguinte, começamos a trabalhar como Active Minds, reformulando alguns sons antigos do S.A.S. e escrevendo novas canções. Dissemos aos outros dois que estávamos separando a banda e, como eles já tinham começado a trabalhar com outro projeto chamado Satanic Malfunctions, não sentimos que seria um golpe tão grande para eles, o compromisso deles com o S.A.S. já não era mais o mesmo. Mantivemos nossos equipamentos em nossa sala de ensaio e começamos a praticar apenas em dupla.

Desde então, obviamente lançamos muitas gravações e fizemos turnês por vários lugares, incluindo o Brasil. Eu não diria que temos “maiores influências” musicalmente, pois ouvimos uma grande variedade de coisas e muitas vezes tentamos incorporar diferentes estilos e elementos em nossas músicas (às vezes com mais sucesso do que outras, mas faz parte).

Uma coisa que acho muito interessante no Active Minds é que você usa temas políticos em suas letras, mas também escolhe temas diferentes para cantar, que são incomuns na cena punk, como fumar nos shows, as partes problemáticas da esquerda política, sobre uso e abuso de álcool e/ou outras drogas e por aí vai. Você recebeu muitas críticas por causa disso?

Tivemos algumas problemas quando desafiamos as coisas que aconteciam na cena punk ou hardcore, particularmente quando iniciamos as atividades, mas suponho que isso já era de se esperar, Porém o desejo de sermos honestos e verdadeiros connosco próprios foi uma das principais razões para deixarmos o S.A.S. e nos estabelecemos como Active Minds, então sabíamos desde o início que isso iria incomodar algumas pessoas.

Sempre tentamos ser atenciosos e honestos tanto no que dizíamos e quanto maneira como dizíamos, e também queríamos ser uma banda que questionasse o mundo que vemos ao nosso redor. Assim sendo, como uma grande parte da cultura ao nosso redor era a cenas musical e política as quais estávamos envolvidos, pareceu-nos natural portanto ver partes disso com um olhar crítico e comentá-las.

A internet tornou as fronteiras nacionais uma coisa do passado, deu às bandas uma janela aberta para levar sua música até as grandes massas e possibilitou que muitas pessoas no Brasil conhecessem o Active Minds. Por outro lado, tem fechado cada vez mais as pessoas em bolhas e alimentado o radicalismo político cada vez mais frequente no mundo. Como lidar com isso?

Este é um dos principais problemas dos nossos tempos atuais, e se eu soubesse como lidar com isso provavelmente não estaria sentado aqui escrevendo isto! (o papo com a gente foi por e-mail)

Penso que a polarização cada vez mais intolerante do discurso político é um enorme obstáculo ao progresso no mundo, mas o modelo de negócio das empresas de redes sociais fez com que isso se tornasse algo inevitável. Essas empresas precisam ganhar dinheiro, apesar de oferecerem serviços gratuitos aos que as utilizam. O seu fluxo de receitas provém da venda da atenção desses utilizadores aos anunciantes e os anunciantes pagarão sempre mais se tiverem a certeza de que as pessoas passam muito tempo em plataformas de redes sociais, ao invés das atividades às quais ocostumavam pagar para ter visibilidade, como TV, rádios e revistas.

Isto então cria um incentivo comercial para simplesmente manter as pessoas na sua plataforma o maior tempo possível, chamar a atenção delas e, de alguma forma, forçar o seu “engajamento”. Infelizmente, a controvérsia, o ódio e a negatividade chamam a atenção com muito mais facilidade do que qualquer outra coisa, então, com o uso de programas algorítmicos, é isso que passa a dominar. Não acho que seja algo que alguém planejou. Acontece que, no mundo das redes sociais, descobrimos que a merda chegou ao ápice.

Isso pode acabar? Não sei. Pode depender de este modelo de negócio começar a falhar ou não, e pode haver sinais de que isso está a acontecer. O “escândalo” da Cambridge Analytica (NOTA DO EDITOR: Em 2018, foi descoberto que a A Cambridge Analytica comprou informações pessoais de usuários do Facebook e usou esses dados para criar um sistema que permitiu influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times) mostrou a muitas pessoas a realidade de que os seus dados estavam a ser recolhidos e manipulados por organizações com segundas intenções, e houve uma certa reação contra isso. Se as pessoas puderem cancelar o uso de muitos dados por terceiros e optarem por fazê-lo, o modelo se tornará menos útil para os anunciantes e esse fluxo de dinheiro poderá diminuir.

Ao mesmo tempo, os governos de todo o mundo exigem que as empresas de redes sociais assumam a responsabilidade pelos conteúdos nocivos nas suas plataformas, e a moderação desses conteúdos, além de exigir muita mão-de-obra, é dispendiosa, haja vista que os custos podem aumentar enquanto os rendimentos diminuem para elas. Em última análise, parece possível pra mim que a prestação destes serviços gratuitamente possa chegar ao fim, e penso que se as pessoas tivessem de pagar para utilizar o Facebook, o Twitter, o Instagram, etc., haveria uma queda significativa nessa escalada de ódio que surge quando se opera quase exclusivamente em bolhas online.

O problema então será, claro, o que viria a seguir? A cultura moderna está atualmente tão ligada ao acesso às redes sociais gratuitas que é difícil imaginar o que faríamos sem elas. Mas houve um tempo, muito recentemente, é claro, em que a nossa atual cultura online teria sido inimaginável. As coisas mudam de maneiras que não podíamos prever anteriormente e todos nós nos adaptamos de maneiras que nunca sabíamos que precisaríamos. Isso sempre vai acontecer.

Essa é uma curiosidade pessoal minha: por que vocês nunca tiveram um baixista? Foi uma decisão consciente começar como dupla?

Nos sentimos confortáveis trabalhando apenas nós dois. Não somos realmente uma banda; somos irmãos, e o Active Minds é a forma como esse relacionamento se expressa musicalmente. Trazer outra pessoa não parece certo, especialmente a essa altura do campeonato.

Sabemos que ser apenas um duo impõe restrições ao que podemos fazer musicalmente, mas aceitamos esse compromisso para não termos que nos comprometer com outras coisas que não teriam a ver com a gente. É por isso que começamos conscientemente como uma dupla. Eu sei que não havia muitas bandas de dois integrantes na época (e ainda não há), mas havia bandas que ouvíamos da Escandinávia ou da Itália onde o baixo era tão empurrado para o fundo que não nos pareceu tão necessário ter um, então pensamos que poderíamos fazer a coisa funcionar.

Qual a sua opinião sobre os serviços de streaming? Agora você não precisa de gravadoras para que sua mensagem chegue a mais pessoas, mas por outro lado, se até os artistas mainstream reclamam do que recebem das gravadoras, nós que somos artistas underground certamente sofremos ainda mais; afinal, também temos contas a pagar. Como sobreviver como artista nos dias de hoje?

Acho que é uma situação muito difícil para as bandas, assim como para tantas outras pessoas envolvidas no trabalho criativo. Essencialmente, o mundo moderno parece girar em torno de todos que querem acessar gratuitamente a este tipo de trabalho, mesmo que custe dinheiro e tempo para produzir, o que torna nosso trabalho subvalorizado. A única maneira de obter algum lucro parece então ser confiar nas receitas publicitárias, o que cria dois problemas para as bandas e outros que querem ser pagos pelo que fazem mantendo ao mesmo tempo alguma dignidade e respeito próprio.

Em primeiro lugar, é preciso envolver-se indiretamente na promoção da cultura consumista, porque sem essas receitas publicitárias convencionais o modelo de streaming não funciona de todo. E em segundo lugar, você precisa autopromover ativamente suas coisas, muito mais do que era necessário anteriormente. Este parece ser um fator da vida cotidiana, todo mundo lutando por espaço e atenção online de uma forma excessivamente competitiva. Este tipo de comportamento, na minha opinião, não está de acordo com o tipo de atitudes cooperativas que eu cresci vendo a cena punk e hardcore sempre fomentando.

Certamente é algo totalmente estranho para nós como banda e, ainda por cima, é algo em que não somos muito bons. A menos que você esteja transmitindo grandes volumes de material, a quantidade de dinheiro que você receberá não cobrirá os custos de ser uma banda que precisa ensaiar e pagar tempo de estúdio. Isso também leva as bandas a se tornarem mais comercialmente orientadas de outras maneiras – concentrando-se principalmente na fabricação de camisetas e outros produtos. Novamente, isso é algo em que jamais nos envolvemos. Nunca fizemos camisetas do Active Minds pra vender, por exemplo.

É claro que há alguns pontos positivos na prevalência do streaming também como forma de acessar música. Não se pode negar, ela torna a música muito mais facilmente disponível para pessoas de todo o mundo do que ela jamais foi. E também, a falta de dependência de formatos físicos pode poupar recursos naturais preciosos (embora isso seja difícil de dizer, pois não creio que alguém tenha analisado adequadamente o uso de energia dos serviços de streaming nesses termos; temos uma proliferação de centros de dados em todo o mundo, que utilizam grandes quantidades de energia apenas para manter os arquivos carregados sempre disponíveis para qualquer pessoa com acesso à Internet).

No final das contas, acho que para os músicos é praticamente um caso que você pode ter sucesso ou ter integridade e respeito próprio, pois parece praticamente impossível ter ambos. Mas talvez, no fim das contas, o jogo tenha sido sempre assim…

Quando você olha para trás, quais são algumas das melhores e piores lembranças dos anos que você passou com essa banda até agora? Como a cena hardcore punk mudou ao longo dos anos, do seu ponto de vista?

Acho que as melhores e as piores lembranças vêm da mesma atividade: Fazer turnês por diferentes países, conhecer novas pessoas, conhecer novos lugares e ouvir novas bandas. Muitos destes momentos foram alguns dos mais inspiradores da minha vida, particularmente nas primeiras vezes que nos afastamos da Europa no final dos anos 80 e início dos anos 90, e vimos a organização dos locais ocupados em muitos países. Quando vimos esses lugares pela primeira vez, o conceito era muito novo para nós (não havia locais ocupados e centros autônomos no Reino Unido dessa forma), e eles abriram nossa cabeça em muitos aspectos.

Algumas das nossas viagens também foram uma verdadeira aventura! Ver partes do mundo que provavelmente nunca imaginávamos que veríamos e da forma como as vimos… Além das nossas muitas viagens pela Europa, também tocamos no México, EUA, Canadá, Brasil, Rússia e Japão, cada um dos quais foi um enorme choque cultural em muitos aspectos. Também tocámos na Europa de Leste pouco antes da queda do Muro de Berlim e do colapso do sistema comunista naquele país, e isso foi ao mesmo tempo uma grande aventura e uma experiência cultural significativa para nós.

Às vezes, as coisas dão errado nas turnês (ficar doente e ter que continuar tocando noite após noite quando você realmente não é capaz de fazê-lo é desgastante demais). Houve alguns shows ruins – às vezes devido ao nosso estado de saúde, às vezes devido à má organização local (não quero dar exemplos disso, pois pode não ter sido culpa dos organizadores; eles podem ter tentado o seu melhor, mas lutaram contra situações as quais não estou ciente), e às vezes tivemos lugares inadequados, horríveis para nos hospedarmos depois. Mas, no geral, tudo é muito divertido.

Como as coisas mudaram? Quando começamos, em meados dos anos 80, a cena punk “Faça Você Mesmo” era bem nova e, em muitos aspectos, ingênua. Coisas como administrar selos e zines eram novidade para todos, então estávamos todos aprendendo como fazer isso na base da tentativa e erro. Houve muita atividade, pois parecia que mais pessoas estavam a se envolver no movimento querendo fazer a coisa engrenar.

Em meados dos anos 90, o número de pessoas que geriam coisas como editoras e selos tinha reduzido significativamente, mas penso que as pessoas também tinham descoberto como fazer as coisas melhor, porque era possível confiar mais na organização das coisas. Muitas das pessoas que ainda estavam ativas quando chegamos a meados dos anos 90 parecem ainda existir hoje; quando viajamos pela Europa, ainda trabalhamos e encontramos pessoas as quais tivemos nosso primeiro contato há mais de 20 anos. .

Obviamente, uma das principais diferenças agora tem sido a internet (não só na cena como em todas as demais esferas da vida). Tornou a comunicação com pessoas de outros países muito mais fácil, então organizar shows no exterior é algo que se tornou muito mais comum para as bandas. A oportunidade para que mais pessoas possam partilhar experiências com aqueles que, em algum momento, dificilmente teriam a oportunidade de conhecer é, obviamente, uma grande coisa. Mas, à medida que se tornou mais comum as pessoas obterem informações online, a presença de zines impressos diminuiu enormemente – particularmente os zines menores e os da turma do “Faça Você Mesmo”, o que é uma coisa triste

E também agora há uma dependência crescente do acesso à música online – mas a gente já discutiu isso antes…

Bobs, eu sei que você é membro do Partido Verde e até concorreu muitas vezes em eleições locais. Você chegou a se eleger? Também acho que Set também foi candidato ao Parlamento Europeu, estou certo? Qual é a sua principal agenda a nível local/nacional? Eu acho que isso pode parecer um pouco estranho ou contraditório para algumas pessoas, pois muita gente pensa que o Active Minds é uma banda anarquista… então quais são suas principais razões para se envolver com o Partido Verde?

Antes de mais nada, convém ressaltar que só eu estava envolvido com o Partido Verde, não o Set. Fui membro durante cerca de 20 anos e participei em muitas eleições, incluindo as eleições parlamentares britânicas e europeias. Também estive no Comitê Executivo Nacional do Partido durante três anos, servindo como Coordenador de Políticas.

A nível local, fui eleito para o Conselho local aqui por volta de 2006 e servi durante 5 anos, embora no final desse mandato já não fosse mais membro do Partido Verde nacional.

Saí há cerca de 15 anos após a decisão de criar o cargo de Líder do Partido. Até então, o Partido Verde não tinha líder e não seguia uma hierarquia política convencional – tendo antes uma cultura de tomada de decisão mais coletiva. Isso foi algo muito atraente para mim e foi a principal razão pela qual entrei. Considerei o Partido como um projeto não apenas para promover políticas progressistas sobre ecologia e direitos humanos, mas também como uma forma de abraçar uma forma diferente de fazer política, uma forma em que uma cultura participativa pudesse ser promovida. Com a decisão de passar para uma estrutura mais convencional, senti que o Partido começou a mudar os seus princípios para tentar perseguir os votos de um eleitorado mais passivo, e isso era algo que eu jamais podereia apoiar, então saí.

A principal agenda que sempre segui foi semelhante às coisas sobre as quais falei nas notas de capa dos discos do Active Minds: sustentabilidade ecológica, direitos humanos e animais, e uma distribuição mais justa de recursos tanto a nível nacional como em todo o mundo. Escrevi algumas das políticas nacionais do Partido na altura em que estive envolvido (incluindo as suas políticas fiscais e sociais) e fui uma das pessoas responsáveis pela supervisão dos manifestos eleitorais nacionais.

Não tenho a certeza de quantas pessoas que nos ouvem sabem que eu estava envolvido na política partidária desta forma, mas nunca escondi isso. Tenho certeza que muitas pessoas pensam em nós como uma banda anarquista, mas esse não é um rótulo que usamos para nos referirmos a nós mesmos. Nunca me considerei um anarquista. Acredito em sistemas administrativos de bem-estar social e justiça, acredito na existência de leis para coibir o comportamento daqueles que prejudicam o planeta e os seus habitantes e acredito no conceito de democracia, mesmo que muitas vezes fique aquém das suas promessas quando colocado em prática.

O que você sabe sobre a música brasileira?

Eu me lembro de ter lido sobre punk e hardcore brasileiro pela primeira vez no início ou meados dos anos 80, e me perguntando se algum dia conseguiria ouvir essas bandas. Mas assim que a banda começou, logo tivemos contatos no Brasil para quem estávamos escrevendo e negociando discos.

Sou colecionador de músicas de todo o mundo há quase 40 anos, inclusive de música brasileira, então acho que tenho muitos discos daí – de músicas antigas como Colera, Olho Seco, Inocentes, Ratos de Porão, etc. até bandas mais modernas. Adorei a crueza e o ataque primitivo do primeiro hardcore brasileiro (acho que a compilação Grito suburbano foi a primeira coisa que ouvi). Eu vi o Cólera tocar aqui há alguns meses, e aqueles primeiros discos deles têm muitas músicas maravilhosas.

E, claro, nem preciso dizer que o metal brasileiro também é bastante famoso por aqui…

Não posso deixar de perguntar. Você tem acompanhado o cenário político no Brasil? Qual é a sua opinião sobre isso?

Não é algo que acompanho de perto, mas durante o tempo em que Bolsonaro foi presidente, era difícil não prestar atenção em algumas coisas que aconteciam! Penso que o seu mandato foi de grande preocupação para muitas pessoas em todo o mundo e foi uma indicação de como as posições políticas repressivas e regressivas podem facilmente ganhar força, especialmente se um país parecer estar em alguma turbulência política. Fiquei, claro, muito satisfeito em ver Bolsonaro derrotado nas eleições e Lula de volta como presidente.

Obviamente, não sei como o povo brasileiro vê a sua situação política no dia a dia, mas do meu humilde ponto de vista aqui do outro lado do mundo, parece que Lula é um dos líderes políticos mais sinceros e com visão de futuro do mundo. Porém, novamente, parece que as presidências brasileiras estão sempre envolvidas em escândalos e processos criminais, e é difícil, daqui da Inglaterra, ter qualquer noção real se estas são ou não apenas caças às bruxas com motivação política (algo que sempre será reivindicado por aqueles que que estão sendo investigados, diga-se de passagem).

Não estou tendo a mesma sensação de caos e convulsões desde as últimas eleições (bem, pelo menos não desde a tentativa fracassada de manter Bolsonaro no poder à força que aconteceu aí em janeiro), mas ainda é o começo. Espero que não comecem mais a surgir alegações de corrupção, porque esse é exatamente o tipo de situação que favorece os homens fortes da política de direita.

Alguma chance de uma nova turnê brasileira? E que mensagem você gostaria de deixar para seus fãs daqui?

Nós fizemos uma turnê pelo Brasil em 2017 e aproveitamos muito nossa estadia aí. Porém, sendo muito honesto, acho improvável que voltemos. Estamos envelhecendo e nossos familiares também – temos problemas de saúde na família e precisamos estar sempre por perto para ajudar, então fazer turnês é complicado no momento. Além disso, não me sinto muito confortável em viajar para o exterior para fazer shows hoje em dia. O planeta está a lutar para lidar com as exigências que os humanos lhe colocam, por isso não quero acrescentar muito a isso e prejudicá-lo ainda mais, pareceria hipócrita para mim.

Então, para aquelas pessoas no Brasil que gostam do nosso material, desculpe, mas acho que é improvável que vocês nos vejam tocando ao vivo novamente. Mas ainda estamos gravando muita coisa (provavelmente agora mais do que nunca), então nos acompanhe no Bandcamp, em canais de streaming ou como você costuma acessar músicas.

E muito obrigado pelo seu interesse. Abraços!

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