Cultura Pop

Éliane Radigue bem de perto

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A compositora francesa Éliane Radigue, hoje com 90 anos, parou faz um tempo de fazer experimentações com fitas de rolo e com eletrônicos. Desde o começo do século 21, ela tem feito peças para instrumentos acústicos – incluindo peças como Naldjorlak, feita ao lado do violoncelista americano Charles Curtis e executada numa turnê de 25 shows pelos Estados Unidos. Mas sua trajetória incluiu muita fita picotada, uso de gravadores de rolo enormes, utilização do sintetizador-monstrengo Buchla (da empresa criada em 1963 pelo pioneiro dos sintetizadores Don Buchla). E muitos trabalhos em que ela começava a gravar – e a deixar tudo registrado – automaticamente, sem ter a mínima ideia de como tudo ficaria no final.

“Eu organizo tudo em fitas bem grandes, com espaços entre as gravações”, explicou. “Cada fita tem 80 minutos, quando eu começo a mixagem devo ir direto até o fim. E não posso errar. Se cometo um erro aos 75 minutos, preciso começar tudo de novo”.

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Radigue explicou um pouco sobre como era o método de trabalho dela num documentário de 15 minutos narrado em francês e dublado em inglês. Eliane Radigue portrait, de 2006, mostrava a musicista em seu apartamento, acompanhada de um gato, gravadores e o tal sintetizador Buchla, que alterou bastante sua concepção de trabalho. Ela também buscou uma educação mais formal, em instrumentos clássicos, no período em que seus filhos nasceram e ela ficou afastada dos estúdios. Mas sua concepção musical vem da época em que estudou com os compositores Pierre Schaeffer e Pierre Henry e entendeu que todo som poderia ser transformado em música.

Apesar de saber trabalhar formalmente, Éliane diz no documentário que não consegue fazer nada se não tiver a peça na qual está trabalhando em sua cabeça, e que segue assim até o fim. Também se diz uma péssima improvisadora. “Faço som sempre para alguma coisa, alguma peça que tenho na cabeça. Se vai funcionar ou não, são outros quinhentos”, diz, lembrando que quando deparou com um Buchla, tinha na cabeça uma imagem muito estereotipada dos sons eletrônicos, e que ficava cheia deles muito rápido. Também conta que voltou a trabalhar com música eletrônica e fitas quando os filhos eram adolescentes, e descobriu que Pierre Henry precisava de um assistente. Até então, durante a infância dos filhos, desenvolvia coisas usando apenas a imaginação.

E se você nunca ouviu o trabalho dela, segue aí Adnos, peça ruidosa composta em 1974 e gravada em 2002 – e que tem quase quatro horas de duração.

Via Ubu.com

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