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E os 55 anos de Younger Than Yesterday, dos Byrds?

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Era comum que lá pra 1966, 1967, 1968, bandas cachorro-grande fizessem discos excelentes em meio a tensões com as gravadoras, certo descrédito da imprensa, revolta dos fãs (que podiam aceitar ou não as “novas fases” de seu artista preferido) e porradarias internas.

Os Byrds fizeram Younger than yesterday, seu quarto disco, lançado em 6 de fevereiro de 1967, peitando uma boa parte disso aí. Com a desvantagem de que, ao contrário de bandas como Beatles e Rolling Stones, as divergências internas eram bem maiores. E envolviam pelo menos três integrantes talentosos que jamais se contentariam em ser escada pra ninguém, e brigavam por espaços mais ou menos iguais nos discos. Eram Roger McGuinn (guitarra, voz), David Crosby (guitarra base, voz) e Chris Hilman (baixo, voz), completados pelo batera Michael Clarke.

Os Byrds nessa época eram uma banda topetuda: eram simultaneamente amigos e rivais americanos dos Beatles (Roger e David apresentaram LSD e música indiana para eles), frequentavam festas de arrepiar, ousavam colocar micropontos de psicodelia nas paradas (o single Eight miles high, de 1966, publicamente nunca admitido como uma referência ao LSD). Younger than yesterday, lançado poucos meses antes de Sgt Pepper’s, nasceu da constatação de que era preciso inovar para não ficar para trás. Ao folk rock psicodélico do grupo foram acrescidos toques de jazz, música indiana, mais e mais experimentações de estúdio, detalhes de entortar o cérebro dos ouvintes.

Na escolha das músicas, ficava evidente que Mc Guinn e Hillman já haviam se revelado compositores capazes de brigar de igual para igual com o ególatra Crosby, cujo comportamento meio errático era uma fonte meio grande de tretas internas e externas. Ainda assim, ele foi responsável pelo melhor momento do disco, a jazzística e reflexiva Everybody has been burned, cujo ritmo e melodia levaram Mike Segretto, autor do livro 33 1/3 revolutions per minute: A critical trip through the rock LP era, a classificá-la como “um espécie de Cry me a river psicodélico”.

Crosby e McGuinn uniam forças em Renaissance fair, quase um rock barroco, mas com intervenção do saxofone jazzístico de Jay Migliori. E também compunham juntos em Why, tentativa bem resolvida de unir rock com base soul e sons indianos. A inclusão de Why, que já aparecera em um lado B de single em outra versão, foi uma das brigas que Crosby iniciou na banda e ganhou – embora inicialmente os colegas achassem que não havia necessidade de incluí-la no LP. Uma música que adianta em vários anos o som de Smiths e R.E.M.

Mind gardens, um raga-rock sem ritmo, controle ou direção, ganha ares de pior música de Younger, mas sua entrada foi igualmente fruto da insistência de Crosby, também autor da interestelar CTA-102, que começa unindo rock e soul à moda da Motown, mas ganha efeitos de oscilador de frequência. Hillman, por sua vez, vinha com o lado mais country-rock do disco, em Girl with no name e Time between, mas emplacando duas pérolas de clima quase beatle (Thoughts and words e Have you seen her face).

Um detalhe interessante sobre Younger é que os Byrds também foram uma banda pioneira em abordar um tema espinhoso: a comercialização da música e a fabricação de artistas. A latinesca So you want to be a rock’n roll star (com o sul-africano Hugh Masekela no trompete) trazia versos como “venda sua alma para a companhia/que está esperando lá para vender utensílios de plástico” e costuma ser interpretada como uma zoação com os Monkees, sucesso na época. Já a cover de My back pages, de Bob Dylan, virou destaque do disco. Incrivelmente, Crosby não queria a canção no álbum, por considerá-la um passo atrás (!) na história da banda. Não era nada disso, como o tempo mostraria.

Após Younger than yesterday, a banda sentiria o golpe da saída de David Crosby – a Columbia, gravadora do grupo, idem, já que mandaria fazer o primeiro Greatest hits dos Byrds em agosto daquele ano. The notorious byrd brothers e Sweetheart of the rodeo, os discos posteriores, ambos de 1968, traziam uma sonoridade mais voltada ainda para o country-rock. O tempo iria desfigurando os Byrds, mas traria gênios musicais como Gram Parsons, além de outros super-músicos, para as formações finais.

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