Cultura Pop
E os 45 anos do primeiro disco do Ultravox!?
No começo da carreira, o Ultravox era conhecido como Ultravox!, com ponto de exclamação no fim do nome. Era uma homenagem à banda de krautrock Neu!, que eles amavam (aliás, amavam também o produtor do grupo, Conny Plank, com quem acabaram trabalhando).
Ultravox!, o álbum de estreia, saiu em 25 de fevereiro de 1977 (opa, fez 45 anos há quase um mês e esquecemos). E foi o primeiro movimento de uma fase experimental e cheia de percalços do gurpo britânico, que antes da virada para o tecnopop e da entrada do versátil Midge Ure, tinha John Foxx (voz, violão, gaita), Stevie Shears (guitarras), Warren Cann (bateria, vocais), Chris Cross (baixo, vocais) e Billy Currie (teclados, violino).
Você vai encontrar aqui pouco do Ultravox de Vienna (1980), o quarto disco e primeiro grande sucesso comercial do grupo. No começo de carreira, o Ultra era basicamente uma banda de pós-glam rock, que pagava pau para o David Bowie de discos como The man who sold the world (1970) e Diamond dogs (1974), e quando queria elaborar as canções, tinha as mesmas quedas para os quase-progressivismos que o Roxy Music tinha.
Desse período, vá sem medo em Wide boys, I want to be a machine e na belíssima (uma de nossas músicas preferidas) Slip away.
Antes da banda se decidir por qualquer nome, aliás, havia uma confusão de nomes. Ou melhor, havia Tiger Lily, nomenclatura usada entre 1974 e 1976 e que rendeu um único single. O Ultravox foi exibido ao público pela primeira vez em 1976 num lançamento especial da Island Records, Front runners, feito em parceria com o jornal de música Melody Maker. Só que na publicação, era anunciado com um grande ponto de interrogação, porque a banda ainda não tinha nome novo decidido nem vinha fazendo shows (porque tinham medo de serem jogados na gaveta do pub rock, que fazia sucesso no período anterior ao punk).
O baterista Warren Cann se recordou anos depois que a banda ficou puta da vida por ter sido anunciada com um “produzido por Brian Eno” pela revista. “Fizemos a produção nós mesmos e demos crédito de co-produção para Eno e para Steve Lillywhite”, vociferou. Curiosamente, a Island optou por The wild, the beautiful and the damned para incluir no disco – uma faixa que nem sequer virou single. O único single de Ultravox!, o disco, era a boa Dangerous rhythm, uma canção animada que estava na primeira demo da banda. Junto com I want to be a machine e Life at rainbow’s end, estava na lista de canções que o grupo apresentou no showcase para a Island, que garantiu o contrato deles.
Eno provavelmente deixou marcas em músicas como Wide boys e no clima meio gélido de My sex, mas é improvável. O ainda indignado Warren afirmou que o parceiro de Bowie não era um músico tão experimentado tecnicamente quanto parecia, que ele trabalhou em poucas faixas e alguns mixes dele nem foram usados, e classifica como “jornalismo preguiçoso” toda tentativa de falar sobre as marcas que Eno tenha deixado em certas faixas do disco.
O álbum foi gravado no estúdio da Island, em Londres, na época em que os Rolling Stones usavam a mesma sala para escutar gravações ao vivo e decidir o repertório do disco Love you live (1977). Numa noite, o Ultravox foi gravar e deu de cara com Keith Richards dormindo na sala de controle. O guitarrista não acordava de jeito nenhum e o jeito foi gravar com ele lá. Pelo menos tiveram a alegria de ver o stone, mesmo adormecido, batendo o pé no ritmo de algumas faixas.
Ultravox! não fez um grande sucesso, mas foi um excelente começo, abrindo espaço para uma pouco lembrada fase punk da banda, com singles de respeito como Young savage e ROckWrok, e para um comecinho da fase tecnopop misturada ali. Ainda que isso passasse despercebido pelo grande público, não havia limites para a criatividade do Ultravox em seu começo. Ouça agora.