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E os 30 anos de Bricks Are Heavy, do L7?

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Muita gente defende que Bricks are heavy, terceiro disco do L7, merecia ter vendido tantas cópias quanto Nevermind, do Nirvana. Ambos os discos são certeiros, pesados, têm o mesmo produtor (Butch Vig) e pegam duas excelentes bandas naquele momento especial e desejado da vida de qualquer banda/artista: a hora em que você tem que fazer muito esforço para as coisas darem errado, e não para que elas deem certo. Porque elas vão dar certo.

Era o que parecia que iria acontecer com o L7 na época do terceiro disco (que, aliás, fez 30 anos em 14 de abril). O quarteto formado por Donita Sparks (guitarra, vocais), Suzi Gardner (guitarra, vocais), Jennifer Finch (baixo, vocais) e Demetra Plakas (bateria) não era encaixável com facilidade na gavetinha do grunge – não cabia nos limites que muita gente colocava num estilo musical que, na prática, nem existia.

Era bem mais que isso: o L7 era (é até hoje) o último grito do punk rock setentista, formado por pelo menos três mulheres que eram adolescentes na época de Never mind the bollocks, dos Sex Pistols (três delas tinham 30 anos ou quase em 1992). E, como lembra o livro Listen to punk rock! Exploring a musical genre, de June Michele Pulliam, eram o outro lado do rock “de macho” que fazia sucesso quando elas cresceram. E as quatro cobriam o estilo com letras e atitudes feministas.

A cena punk de Los Angeles já conhecia bandas femininas há vários anos, mas o L7 foi talvez a banda da região que melhor fez o crossover entre credibilidade rueira e mainstream. Passaram por dois dos maiores selos independentes do rock americano dos anos 1980/1990 (Epitaph e Sub Pop) antes de ganharem a fama de verdade, com o selo Slash e a distribuição da PolyGram. Antes de Bricks are heavy, já tinham gravado um álbum que rivaliza com este o posto de melhor disco delas (Smell the magic, de 1990). Tinham também aberto shows do Nirvana na Inglaterra e ajudado a criar o Rock For Choice, grupo pró-direitos das mulheres.

O terceiro disco do L7 surgiu cheio de hinos que detalhavam essas experiências, como Diet pill (sobre a “ditadura da beleza” e do corpo magro), o single Pretend we’re dead (sobre a recusa à luta por direitos), Everglade (sobre a vulnerabilidade de mulheres nas plateias de shows de rock), Mr Integrity (um ataque aos esquerdomachos do punk em clima surf). As letras e os arranjos tinham referências de punk, hard rock, pré-punk (Stooges, principalmente).

Havia um lado gótico suave ali, em músicas como One more thing. E vocais no estilo do Motörhead em Monster. Além disso, homenagens a Yoko Ono (com vocais sampleados em Wargasm) e ao musical Hairspray (a frase da personagem Edna Turnblad, “minhas pílulas de dieta estão acabando”, em Diet pill) apareciam no álbum. Que por sinal, fazia do selinho do PMRC (“aviso aos pais: letras explícitas”) um detalhe da arte da capa. Era um motivo de orgulho: sim, as letras são explícitas, e isso é muito bom.

A MTV ajudou bastante a divulgar o disco. Aliás, estar na TV era uma fantasia secreta de Donita Sparks, que conhecera Ramones e David Bowie pela telinha. “E não no rádio”, afirmou aqui. “Achava que éramos um modelo muito legal e demente para as pessoas. Porque, muitos garotos que assistiram a MTV nos viram lá e eles eram… Talvez garotos que eram meio desajustados de esquisitos em seus próprios bairros ou qualquer outra coisa”.

Bricks are heavy não venderia tanto quanto o do Nirvana por razões meio óbvias – era um disco realizado por mulheres num mercado sexista, tocando em temas que muita gente queria apagar das vistas do público. E nas letras, era bem mais objetivo e franco do que qualquer álbum mainstream do seu tempo. Mas deu certo, fez sucesso e ajudou a solidificar uma das carreiras mais duradouras do rock.

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