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E os 25 anos de Homework, do Daft Punk?

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O livro Daft Punk: A trip inside the pyramid, de Nina Santorelli, recorda que Homework, primeiro disco do Daft Punk (lançado em 20 de janeiro de 1997) era “um álbum que mostrava para fãs de rock que dance music é cool”. Era mesmo: se grupos como o New Order e o Depeche Mode uniam sons dançantes, bons riff e disposição para a estragação rocker, lá vinha uma certa dupla francesa (Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, você deve saber) mostrar a roqueiros radicais que música eletrônica podia funcionar como uma espécie de sombra dançante do punk rock.

Por causa de Homework (e de outros discos lançados na mesma época, como Dig your own hole, o segundo do Chemical Brothers), teve muito fã de rock que atravessou para o outro lado – o dos batidões eletrônicos. E lá ficou, em excelentes companhias. E cá entre nós, bem antes disso já havia o Kraftwerk unindo os dois mundos. O Daft Punk nem sequer tinha essa preocupação: era basicamente house music feita por gente que estava acostumada a lidar com rock (os dois haviam tido uma banda punk antes, Darlin’).

Mas a ideia da dupla, antes de qualquer outra coisa, era ser livre, fazer música livre, produzir de maneira livre. E garantir liberdade no relacionamento com as gravadoras: a demo do Daft Punk passou por uma pequena guerra de selos, Bangalter e Homem-Christo acabaram contratados pela Virgin, mas fizeram a coisa a seu modo. Amigos desde os 12 anos, levaram o “faça você mesmo” a sério. Gravaram o disco em seu próprio estúdio (o disco não se chama “dever de casa” à toa) e mantiveram todo o material sob seu controle. Os próximos passos da dupla, que sempre cobriu o rosto com máscaras, seriam estudados e calculados.

Homework foi feito de maneira completamente maluca, em se tratando de um disco de estreia. As músicas já estavam compostas e gravadas antes da dupla decidir que aquilo seria um álbum (duplo, em vinil). Segundo Bangalter, o material que geraria o primeiro disco da dupla era para ser um monte de singles, e nada mais do que isso – mas o excesso de músicas levou ao LP inteiro.

O single de estreia Da funk já saiu vendendo 250 mil cópias na Europa e foi galgando espaços. Mas não é o maior hit do disco: Around the world, o segundo compacto, é a música mais ouvida da banda até hoje, e pôs na memória de todo mundo o som do vocoder, a frase-título (repetida à exaustão) e a coreografia viciante do clipe. Que parecia bastante com as coreôs psicodélicas dos programas musicais da BBC.

Da funk ganhou clipe – e a dupla, que já não queria mostrar a cara, não fez questão de aparecer nele nem mesmo mascarada. Um sujeito com máscara de cachorro aparecia quase o tempo todo, contracenando com outras pessoas, sob direção de Spice Jonze. “Não queríamos aparecer, e queríamos que tudo parecesse com um filme, nada de imagens geradas por computador”, afirmou Bangalter ao CMJ New Music Monthly, em junho de 1997.

Homework era um disco político, a seu modo. Revolution 909, outro single retirado do disco, brigava com a repressão na França a festas rave. “Eles dizem que é por causa das drogas, mas não acho que seja a única coisa. Há drogas em todos os lugares, mas eles provavelmente não veriam problema se a mesma coisa estivesse acontecendo em um show de rock. Eles não entendem essa música que é muito violenta e repetitiva, que é a house”, reclamou Bangalter. No mesmo álbum, um batidão de sete minutos ganhava ironicamente o nome de Rock’n roll. Já a psicodélica Burnin’ juntava baixão no estilo do Chic a scratches ritmados. A reverente Teachers tinha em sua letra uma lista de DJs, rappers e instrumentistas. Uma Festa de arromba minimalista e eletrônica, que convidava Dr. Dre, George Clinton e nomes descolados da cena house de Chicago.

Demoraria quatro anos até o Daft Funk lançar disco novo. Discovery saiu em 2001 e era um álbum mais orgânico que o primeiro. Evidentemente, era orgânico à moda Daft Funk, unindo samples, influências de disco music e instrumentos musicais (guitarra, piano elétrico) tocados pelos próprios Thomas e Guy. Outros lançamentos viriam, mas só esse começo com Homework bastou para mudar a história da música.

 

 

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