Cultura Pop
E os 20 anos de The Execution Of All Things, do Rilo Kiley?
O som da banda Rilo Kiley apareceu tanto em séries que, se um dia você resolver escutar toda a discografia deles, vai descobrir que conhece várias músicas – The OC, Grey’s anatomy e Buffy, A caça vampiros foram algumas das atrações nas quais apareceram canções da banda liderada por Jenny Lewis (voz, guitarra, teclados) e Blake Sennett (guitarra, teclados, vocais).
O repertório do grupo, um tanto melancólico e feito de encomenda para séries e filmes adolescentes, parecia ter bem pouco a ver com o som da terra deles, Los Angeles. Tanto que o Rilo Kiley acabou primeiramente contratado por um selo de (adivinhe) Seattle, a Barsuk Records. Foi por lá que saiu a estreia Take off and landings, de 2001, hoje mais conhecida pelo discurso sonhador e escapista das belas Go ahead e Pictures of success, as mais populares do álbum.
Já The execution of all things, o segundo disco da banda, completa 20 anos em 1º de outubro. Recomendadíssimo para quem nunca ouviu nada deles com atenção (repetindo: provavelmente você já escutou uma ou duas canções deles e não sabe até hoje de quem são), aprofunda a receita quase folk da estreia, inserindo mais guitarras, distorções, um ou outro timbre eletrônico, em meio a canções mais amadurecidas.
Ex-atriz infantil e filha do lado sombrio de Los Angeles (sua mãe, uma cantora e atriz, Linda Lewis, passou maus bocados com heroína e chegou a traficar drogas), Jenny, ao lado de Sennett, encheu o disco de referências a mudanças, viagens, relacionamentos falidos deixados para trás e perdas que vêm para bem. Como na faixa-título, em Paint’s peeling, A better son/daughter. (dos versos “os pontos baixos são tão extremos que o bom parece barato/e isso provoca você por semanas em sua ausência/mas você vai lutar e você vai passar por isso”) e The good that won’t come out.
O segundo disco do Rilo Kiley era um disco de “indie rock” (com aquele clima sonoro geralmente associado a bandas indies), mas com melodias que já mostravam uma vocação mais pop. Isso, claro na medida que era um álbum gravado e produzido de maneira bem mais profissional. E na medida que deixava entrever, mais ainda que o primeiro disco, um clima ligado ao folk dos anos 1970, com temas tristonhos e introspectivos, e melodias um tanto mais ensolaradas que as letras.
Boa parte do disco, inclusive, narrava as tristezas da infância de Jenny, por causa do divórcio de seus pais. Após a separação, Jenny pouco viu seu pai, um músico chamado Eddie Gordon, e equilibrou-se entre as internações de sua mãe e problemas pessoais. Anos depois, dedicou o seu quarto álbum solo, On the line (2019) a Linda, que morreria em 2017.
The execution of all things saiu pelo selo Saddle Creek, de Omaha – a chegada do Rilo Kiley na cena local, então em expansão, é citada inclusive na letra da faixa-titulo. O álbum indicava mudanças na vida do grupo, com o fim do namoro entre Jenny e Blake e a chegada da banda na Warner para gravar o terceiro disco, More adventurous (2004) – que ainda assim foi lançado por um selo criado pela banda, mas distribuído pela multinacional.
O Rilo Kiley só chegou perto daquilo que é costumeiramente chamado de sucesso quando já estava encerrando atividades. Under the blacklight (2007), disco que já era uma “volta” da banda após projetos solo de Jenny e Black, foi o primeiro e único lançamento feito 100% pela Warner, e já era um álbum que sacaneava a própria busca pela fama, em músicas como The moneymaker. Depois, viria um hiato – que transformou-se em término só em 2014.