Cultura Pop
E o Dread Zeppelin, por onde anda?
Dizem por aí que piada tem prazo de validade, e que histórias engraçadas quando repetidas por vários anos perdem a graça. Não é o caso do Dread Zeppelin. O grupo californiano iniciou carreira nos anos 1980 com uma proposta inusitada: fazer covers de Led Zeppelin em formato reggae, mas com um toque de Elvis Presley – já que a banda era liderada por um vocalista chamado Tortelvis, uma paródia do rei do rock. Na verdade, não era, é: o Dread Zeppelin, entre idas e vindas, existe até hoje.
Muita gente deve lembrar da banda por causa do primeiro disco, Un-led-ed (1990), lançamento prestigioso do selo IRS. E por causa das versões de dois clássicos do Led, Your time is gonna come (a MTV Brasil passava o clipe) e Stairway to heaven (lançada em single e incluída na versão nacional de Un-led-ed). Rasta Li-Mon, produtor e engenheiro de som do disco, trabalhava no estúdio de Dave Stewart, dos Eurythmics, o que facilitou para que boa parte do primeiro álbum fosse gravada lá.
No comecinho da história, Tortelvis abusava: o cantor, que entrou para a banda quando dirigia um caminhão de entrega de leite (e supostamente bateu na traseira da van do grupo), dizia que era filho de verdade de Elvis Presley. “Meu pai veio falar comigo pouco antes de morrer, em 1977”, disse ao Daily Press. Lógico que a família do roqueiro chiou e ele teve que dizer que era só “filho espiritual”.
O Led Zeppelin pareceu gostar da brincadeira, embora às vezes se entediasse. Embora Robert Plant tenha posado com uma camisa do Dread Zeppelin para a revista Kerrang! e tenha falado até que “eles tocam Your time is gonna come melhor que nós”, a banda costumava dizer que já fazia versões reggae de Stairway to heaven fazia tempo.
De qualquer jeito, o Dread Zeppelin cometeu uma ousadia que deu certo: juntou o clássico Heartbreaker a nada menos que Heartbreak hotel, sucesso de Elvis. E fez o mesmo juntando Black dog (enfeitada com – adivinhe? – latidos) a Hound dog, outro hit do cantor. Tá tudo no primeiro disco.
Agora corta pro Dread hoje. Tortelvis continua na banda. Do núcleo inicial do grupo, quando se chamavam The Prime Movers (e eram uma inusitada banda de pós-punk com letras sobre faroeste, que chegou a gravar pela Island), sobrou só o baixista Put-Mon. Da formação do álbum Un-Led-Ed, além de Tortelvis, estão o guitarrista Carl Jah e o percussionista Ed Zeppelin (eita).
O grupo ainda faz shows e permanece fazendo piadas com o Led. Tanto que o disco mais recente, de 2011, se chama Soso (uma brincadeira com o símbolo ZoSo do Led). O disco tem versões já conhecidas, como Black dog. Heartbreaker aparece unida a Hotel California, dos Eagles. Mas tem uma versão bem bacana de The rain song. Pode ser baixado (a 9 dólares e 99) do site do grupo.
As piadas da banda já foram melhores. Afinal o DZ já gravou No quarter pounder (1995, unindo No quarter ao quarterão com queijo daquela conhecida rede de lanchonetes) e Presents (2002, um disco de Natal no estilo Elvis-reggae cuja capa zoava Presence, LP do Led de 1976).
O que muita gente não faz ideia é que (pode acreditar) Tortelvis chegou a sair da banda. O grupo, que tinha gravado canções autorais no segundo disco (5.000.000 Tortelvis fans can’t be wrong, de 1991, com capa parodiando o Led Zeppelin IV), chegou a planejar uma ópera rock chamada Albert, sobre um crítico de rock que queria virar um popstar. Não deu certo e em 1992, o DZ lançou It’s not unusual, com covers de disco music, já sem o vocalista, que saiu no meio dos ensaios.
E não deu certo de novo: a IRS descartou a banda após o fracasso do disco, e o DZ se separou. Voltaram em 1993, com Tortelvis se juntando de novo à banda, por causa de uma razão peculiar: o INXS era fã da banda e queria que o Dread Zeppelin abrisse seus shows. O grupo abriu uma apresentação deles, voltou e ainda pulou de gravadora em gravadora por vários anos. Depois montaram um selo chamado Cash Cow Recording.
Já em 2000, a banda passou por um perrengue daqueles, no lançamento da coletânea De-jah voodoo: roubaram todo o seu equipamento e até o cinturão de ouro que Tortelvis usava desde o começo da banda. “Era um cinturão de levantamento de peso com um monte de joias e esteve em cerca de 30 países diferentes e alguém em Dallas está agora sendo considerado o ‘campeão mundial de peso pesado”, disse Tortelvis aqui. “O cinto se foi, mas eles não podem tirar a música de nós”.