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E Black Market Music, do Placebo, que faz 22 anos em outubro?

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Dono de umas vozes mais cheias de personalidade do rock britânico dos anos 1990, Brian Molko, cantor do Placebo, teve lá suas crises de arrependimento por não ter se envolvido 100% na produção de Black market music (lançado em 9 de outubro de 2000), terceiro disco da banda. Um dos discos mais curiosos do grupo, embora nem seja um dos mais populares. Era em especial um álbum marcado pela zoeira no estúdio, pelo abuso de drogas e pela experimentação excessiva (que fizeram com que as gravações se estendessem por longos nove meses).

Era também um disco polêmico, e não apenas por ter sido puxado pelo punk Special K – uma canção que fala de amor como quem fala de drogas, e que fez uma turma enorme torcer o nariz. O “special k” do título é a ketamina, tranquilizante para cavalos que já foi uma das drogas mais populares entre jovens britânicos e volta e meia aparece nos jornais como o combustível de vários golpes na onda do “boa noite Cinderela”. E de modo geral a crítica recebeu o novo passo de Brian Molko (voz, guitarra, teclados), Stefan Olsdal (baixo, guitarra, teclados) e Steve Hewitt (bateria) com uma frieza inédita na história da banda.

Resenhas na base do “é um disco legal, mas…” dividiram espaço com jornalistas que tinham realmente curtido a nova fase da banda, mais pesada e trevosa. Aqui no Brasil, em outubro de 2001, Lucio Ribeiro esculhambou o disco em poucas palavras na revista Trip. “Só de carregar a pecha de ‘o disco maduro do Placebo’, já entrega: maturidade, em um gênero como o britpop, que hoje respira por aparelhos, é sinônimo de aposentadoria”.

Black market music estava de ser o fim da linha para uma das bandas mais interessantes do rock britânico dos anos 1990, e partiu de um dilema que, para aquele começo de anos 2000, fazia todo o sentido. “Tínhamos tanto ódio por bandas de rap-rock como Limp Bizkit e tudo o que eles representavam – misoginia, homofobia e comercialismo – que queríamos fazer nossa própria versão disso”, chegou a dizer Molko num papo com a Kerrang!, chamando também a atenção para a mistura de estilos musicais no disco.

A pecha de “disco maduro” trouxe lá certas incompreensões pro Placebo, justamente numa época em que mesclar coisas e arriscar uma saída do feijão com arroz era fundamental no mainstream. Por acaso, o terceiro disco do Placebo foi lançado na mesma fatia de tempo em que os Stone Temple Pilots eram vistos fazendo unindo punk-glam-metal e baladão easy listening em Nº4 (1999), Los Hermanos faziam MPB indie em Bloco do eu sozinho (2001), os Raimundos fantasiavam-se de pagodeiros em Só no forévis (1999) e a união de rap e metal conquistava fãs adolescentes. Hoje parece que não, mas tudo fazia sentido.

Quem curtiu singles como Pure morning e Nancy boy talvez não estranhasse tanto músicas como Taste in men e Special K. Ou mesmo Slave to the wage, que usava um sampler de Texas never whispers, do Pavement, e acabou virando uma “parceria” do Placebo com Scott Kannberg e Stephen Malkmus – mas cuja letra falava do desencanto com o mundo adulto, com os empregos de 9 às 5 (enfim, maturidade…). E de qualquer jeito o terceiro disco do Placebo, sim, era menos sujo, mais polido e, como eles próprios já haviam adiantado, ousava flertar de leve com o nu metal. Spite and malice abria até com uma tentativa tosca de rap.

Passive agressive era uma balada pesada e depressiva que, mexe dali, mexe daqui, não soaria deslocada no repertório do Linkin Park – embora parecesse mesmo inspirada em Smashing Pumpkins. Mas pensando bem, já era uma sonoridade que estava ali bem evidente em algumas faixas dos discos anteriores do grupo.  Músicas como Black eyed e Haemoglobin também pareciam mais metalizadas do que o passado do Placebo, que ainda fazia baladinha bittersweet na curtinha Commercial for Levi e deixava surgir influências de jazz em Black market blood.

Entrevistas da banda na época de Black market music davam a entender que o Placebo tinha até bem pouca noção do que estava fazendo na música. Eram uma banda que reativava o glam rock dando-lhe uma nova cara, eram reconhecidos por ídolos como David Bowie e Depeche Mode, mas Molko chegou a se referir ao disco de estreia do grupo como “punk pop” (bom, o Placebo não tinha nada a ver com Green Day, Offspring e outros). O Placebo estava melhor posicionado no lado noturno do rock dos anos 1990/2000, com letras doloridas, instrumental tenso e influências de música eletrônica e rock alternativo clássico. Prestes a lançar o oitavo disco, Never let me go (prometido para novembro), estão muito bem acomodados nesse lugar até hoje.

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