Cultura Pop
Discos de 1991 #6: “Tudo ao mesmo tempo agora”, Titãs
Divulgando Tudo ao mesmo tempo agora, disco de 1991, os Titãs perceberam que adotar uma linguagem mais pesada (tanto em música quanto em letra) custava caro. O disco novo tinha um design musical punk inicialmente associável ao de Cabeça dinossauro (1986). Para se comparar de verdade ao terceiro disco da banda, faltava um hit de verdade e uma produção mais focada. Os Titãs decidiram alugar uma casa para transformar em estúdio provisório e cuidaram eles mesmos da produção do disco. A ideia inicial do álbum chegou a ser algo como “vamos fazer um disco só para nós”.
A banda vinha de um disco que nada tinha a ver com Tudo ao mesmo tempo: o retropicalista Õ blésq blom (1989), muito bem recebido. Já o sétimo álbum dos Titãs costumeiramente é chamado de “o disco grunge” deles (uma denominação com a qual a banda não concorda, e que pega também o subsequente Titanomaquia, de 1993). Não dá mesmo para classificar o álbum como um equivalente da onda de Seattle. Tudo ao mesmo tempo tem os teclados de Sergio Britto, letras de tom experimental e uma cara emepebística evidente até mesmo em canções como Saia de mim e Já.
Não deixou de ser um disco inovador e até empreendedor: além do cuidado pessoal com todo o processo de gravação (por sinal os Red Hot Chili Peppers fizeram o mesmo com BloodSugarSexMagic na mesma época), os Titãs convidaram uma empresa de vídeo que estava começando no mercado, a Conspiração Filmes, para documentar toda a gravação. Do material saiu a “versão em VHS” de Tudo ao mesmo tempo agora, hoje rara: nunca saiu em DVD, mas recentemente foi jogada pela banda no YouTube.
O “custa caro” do começo do texto ficou por conta da necessidade de vender um disco indigesto e cheio de palavrões em tempos de crise. Tudo ao mesmo tempo agora foi mal recebido pela crítica, que localizou infantilidade nas letras e deficiências na produção. Marcel Plasse, na Folha de S. Paulo, comparou a banda a “crianças que acabaram de descobrir a diferença entre os sexos”. Os oito (sim, eram oito!) reagiram como puderam: enfiaram até as músicas mais insociáveis do álbum no repertório de seu show no Hollywood Rock em 1992. A nova fase tirou Arnaldo Antunes da banda, levou a uma reengenharia (Jack Endino, por sinal um dos artífices do grunge, foi cuidar de Titanomaquia) e foi, devagar, trazendo o grupo de volta às paradas.
Alguns anos depois, alguns dos Titãs disseram que, na divulgação do LP, descobriram que o que mandava no gosto do brasileiro era o rádio – e não a MTV, que estava bombando com clipes do Faith No More e do Metallica. E poucas FMs tocariam canções como Isso para mim é perfume (a do “amor, eu quero te ver cagar”). Ainda que três anos depois, os Raimundos estivessem tocando Puteiro em João Pessoa e falando sobre selins de bicicleta, era muito cedo e talvez a relação forma/função não fosse a mais adequada. Mas era uma das bandas mais bem sucedidas do Brasil tentando um terceiro ato e uma mudança de discurso numa época bastante difícil.
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