Cultura Pop
Creedence Clearwater Revival dando uma de banda de vanguarda
Quando você pensa no Creedence Clearwater Revival, pensa em camisas de flanela (que eles usaram bem antes da onda de Seattle), músicas sobre pântanos e ambientes selvagens, hinos de protesto (Fortunate son, por exemplo) e crossover total entre soul, folk e blues, certo?
Pois pode começar a pensar neles também como uma fruto de seu tempo. Muita gente mal comenta disso, mas o CCR, formação liderada pelo compositor e cantor John Fogerty, esteve no palco do Festival de Woodstock. O show da banda rolou já na madrugada de 18 de agosto de 1969, e não havia saído nem no disco do evento, nem no documentário, porque Fogerty assim o quis. Só em 2019, ano de comemoração das cinco décadas do festival, saiu (finalmente) um disco inteiro com todo o show.
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O lado, er, vanguardista do CCR é, no entanto, bem humilde. Um ano depois que os Beatles lançaram Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o Creedence lançou seu primeiro e epônimo disco, cheio de motivos psicodélicos na capa, e com algumas canções um tanto mais viajantes. O mesmo aconteceu em outros discos, como Bayou contry, quarto LP, de 1969, cuja capa poderia muito bem ter sido feita pela Hypgnosis, que faria os layouts do Pink Floyd a partir de 1970. Mas o mais próximo que a banda chegou de fazer um Revolution 9 (Beatles) ou um Interestellar overdrive (Pink Floyd) tá aí.
“RUDE AWAKENING #2”. A última música do último disco do CCR com o guitarrista Tom Fogerty, Pendulum (1970). Era o disco de baladas como Have you ever seen the rain? e (Wish I could) Hideaway, e de coisas mais pesadas como Pagan baby. Também era o disco dessa faixa maluca que começava com um lance meio folk no violão e virava uma canção comum do Creedence lá pelos 35 segundos.
Só que lá por 1m44, surge um riff intermitente de guitarra, uns sintetizadores apitando e… Do nada, a canção se transforma numa viagem psicodélica com riffs ao contrário, tons apocalípticos, flautas e percussões desencontradas. Aliás, rolam umas coisas que parecem anunciar a chegada do… rock progressivo? Bom, ninguém imaginaria o Creedence fazendo esse tipo de som. Mas a verdade é que eles fizeram. E ficou mais estranho do que apropriadamente bom, vamos admitir.
“Os Beatles fizeram essa ‘colagem de som’ chamada Revolution 9 . Esse tipo de coisa estava no ar”, contou Fogerty em sua autobiografia Fortunate son, referindo-se à música como “um disparate livre”.
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“45 REVOLUTIONS PER MINUTE (PARTES 1 E 2)”. Mais estranho ainda: pouco antes de Pendulum chegar às lojas, saiu esse single do CCR. O disquinho tem duas faixas que parecem narrar uma entrevista mal sucedida da banda. O grupo é interrompido por barulhos de instrumentos, vaias, gente soprando, aplausos, fitas com velocidade acelerada. O CCR “responde” perguntas sobre não fazer músicas políticas, é atropelado pelas questões do radialista, e rende risadas quando Fogerty tem que atender a um “ouvinte” que insiste em lhe cantar uma música pelo telefone.